tag:blogger.com,1999:blog-86122971400353969412024-03-12T20:37:18.325-07:00Lorotas&MarmotasCarlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.comBlogger33125tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-67284581525664494592012-08-23T09:20:00.001-07:002012-08-23T09:20:25.378-07:00JORNAL `A JANELA: Origem da família Mota<a href="http://ajaneladobraz.blogspot.com/2011/03/origem-da-familia-mota.html?spref=bl">JORNAL `A JANELA: Origem da família Mota</a>: Mota é um apelido de família da onomástica italiana de origem toponímica cuja origem é pré-romana. Este sobrenome possui muitas variantes, ...Carlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-42633678400675651702012-08-21T06:50:00.001-07:002012-08-21T06:50:22.995-07:00The End<h2><span style="font-size: x-large;">The End</span></h2>Carlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-7734913998315471032012-08-21T06:48:00.001-07:002012-08-21T06:48:47.959-07:00The End<h2>The End</h2>Carlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-57348358972521941242012-08-21T06:26:00.001-07:002012-08-21T06:26:11.224-07:00É pra lá que eu vou. E só com passagem de ida!Ilhas Faroé<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3LipXJ4V2JPf6qaGgGPouf574V7o_L8zCdek0EflGDAT3w-g57fhDEnDtprd6-snc4ULj7jmbbzHVpPn2BmG2HWMoGiUhSbsrKrWyRg4lACp1yjkT9byegQbJPb-OXUEmqh1Q8oaMEBvP/s1600/faroe-islands-village_54813_600x450.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3LipXJ4V2JPf6qaGgGPouf574V7o_L8zCdek0EflGDAT3w-g57fhDEnDtprd6-snc4ULj7jmbbzHVpPn2BmG2HWMoGiUhSbsrKrWyRg4lACp1yjkT9byegQbJPb-OXUEmqh1Q8oaMEBvP/s320/faroe-islands-village_54813_600x450.jpg" width="320" /></a></div><br />
Carlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-86474105159178783032012-08-19T07:16:00.002-07:002012-08-19T07:19:22.473-07:00<strike></strike><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A Mala<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">(arremedo de romance escrito numa viagem pela Europa)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Carlos D. Mota Coelho</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Com muito custo cheguei à esteira de bagagem e vi a minha
mala. Todas as demais tinham sido retiradas pelos passageiros que, ao contrário
de mim, não tiveram a desventura de se sentarem na última fileira de poltronas,
nem se perderem pelos labirintos daquela imensidão de aeroporto, por conta da
mais completa ignorância, sobretudo quanto àquele ininteligível idioma. Que
alívio ao vê-la ali, ainda que absolutamente solitária! Esperei que a esteira
rolante a trouxesse bem perto de mim, enquanto, pelo vidro, era possível
perceber que a temperatura externa estava muitos graus abaixo da sentida por
mim naquele saguão artificialmente aquecido. E assim que ela chegou agarrei-me
à sua alça e tentei retirá-la daquele tapete giratório de metal, louco por
abri-la e dela retirar o meu casaco de inverno. Num primeiro momento ela nem se
abalou e quase que me levou junto. Com muito esforço consegui arrebatá-la e
jogá-la ao chão, sem entender aquele descomunal peso, que logo atribuí não a
ela em si, mas a mim mesmo, supondo-me enfraquecido pela extenuante viagem e
pelo fato de que eu simplesmente dormia a cada instante em que os comissários
distribuíam a comida de bordo. Apesar do
peso, eu estava certo de que ela era minha, a mesma que eu portava quando do
embarque, recheada com as minhas roupas, sapatos, acessórios, uma tora de fumo,
algumas cumbucas de palha e um pouco de feijão e farinha, necessários à
eventualidade de me faltar comida, eu que viajei sem um tostão no bolso.
Temeroso do frio lá fora, logo cuidei de levá-la a um canto, longe da
bisbilhotice alheia, para que dela eu pudesse retirar um casaco mais quente do
que aquele em que eu me achava metido. Reuni então todas as forças que me
restavam e consegui arrastá-la rumo a um local ermo, próximo a um vão de
escada. Se eu tivesse dinheiro para alugar um, com certeza eu teria me valido
do carrinho de bagagem. Mas não! Olhei então para um lado e para outro, rompi o
lacre de plástico e puxei um pouquinho o seu zíper. Mas assim que enfiei a
minha mão em seu interior, certo de que alcançaria o meu desejado casaco,
deparei com algo rijo, feito tijolos ali arrumados. Passei a mão de um lado
para outro e a mesma sensação tátil. Tentei mergulhá-la mais um pouco e nada de
sentir a maciez das roupas ou os grãos de feijão dentro de um saco. Gelei!
Imaginei alguma pegadinha do amigo que me facilitou a fuga, introduzindo nela
os tijolos de cerâmica que imaginava estar em seu interior. Mais gelado fiquei
ao imaginar estar ali tijolos de maconha ou cocaína, por mim trazidos feito
mula, ludibriado por aquele bando de vagabundos que me estimulou a fugir de meu
país. Quase que a abandonei ali, mas um funcionário do aeroporto, vendo-me
naquela aflição e supondo que era por conta de seu peso, se prontificou a me
ajudar a retirá-la. Fechei imediatamente o seu zíper e a companhia daquele
funcionário aliviou a minha tensão ao transpor o portão da alfândega. Logo me
vi no saguão de saída e mais uma vez tencionei abandonar aquela maldita mala.
Em meio àquele vaivém de pessoas minha cabeça girava a mil, ora imaginando a
abordagem de seu verdadeiro dono, algum passageiro que levou a minha mala
pensando que fosse a sua, ora imaginando topar com o destinatário daquela
muamba, pronto a me apagar em algum arrabalde próximo. Criei coragem e dela
então me afastei, pensando em não vê-la nunca mais. Mas quando estava prestes a
ganhar a porta rotatória de saída, uma mulher me alcançou, dizendo palavras por
mim incompreendidas, mas gesticulando em direção à maldita, como que a dizer
que eu havia me esquecido dela. Voltei para junto dela e ali fiquei por alguns
instantes parado, sem saber que rumo tomar. Mas assim que a bisbilhoteira se
afastou, tentei novamente da mala me desvencilhar, levando-a até o banheiro
próximo. Com muito custo consegui arrastá-la até o reservado. Chaveei a porta e
num arranco abri o seu zíper e que surpresa: maços e mais maços de dinheiro, de
suas profundezas à superfície! Não me contive e dei um grito, seguido de toques
na porta, dados por algum usuário ou pelo faxineiro que me viu entrar. Então me
contive, dela arrebatei alguns maços de notas e os enfiei nos bolsos da calça.
À saída, chamei um carregador e entrei numa loja, onde comprei o mais caro
casaco e um chapéu. Ao sair, um susto, pois o carregador de malas não estava
ali à porta. Vi então a minha brevíssima vida de milionário virar pó. Olhei ao
redor tentando encontrá-lo, mas a hipótese de ele ter sido pego em meu lugar me
aliviou. Além do mais, aqueles maços de notas por mim apanhados já eram
suficientes para eu me manter por muitos dias, até que eu arranjasse um emprego
ou um trambique. Dando-a resignada e propositadamente por perdida, apressei o
passo rumo à porta, quando fui alcançado pelo carregador que ma devolveu
aparentemente intacta, sem que eu entendesse bulhufas de sua tentativa em
justificar aquele aparente desaparecimento seu. Remunerei-o regiamente, quando
ele, por conta de sua falta, sequer imaginava que eu fosse o (lhe) pagar. Logo
cheguei à imensa fila de táxis, apalpei o bolso e dele saquei a minha carteira
de cigarros, acendi um e me pus a apreciar aquela paisagem para mim tão
diferente. De repente, outro susto, pois de um carro que ali estacionou desceu
um sujeito mal encarado carregando uma mala idêntica à minha ou a ambas. Meu
coração disparou em pensar em ter que devolver aquela ao pé de mim, recebendo a
recheada de molambos, trastes e feijões. Aos poucos ele foi se aproximando de
mim e eu já me antecipando em gestos de devolução, mas ele, embora reparando a
minha mala, passou direto, o que me deu a certeza de uma mera coincidência.
Aliviado, apaguei o cigarro e mirei em direção à extensa fila que dava voltas
em torno do ponto de táxi. A cada instante todos da fila davam um passo à
frente. De repente, num de seus anéis concêntricos, deparei com uma estupenda
loira com várias malas, uma delas idêntica à que eu carregava<i>. É ela</i>, pensei! Como eu me achava ainda longe dela, arrefeci
a vontade de me mandar daquela fila, mas a chegada de um vetusto senhor junto à
loira, com pinta de que havia percebido o engano quanto às malas, me fez mudar
de decisão. Saí então daquela fila, fui até a banca de jornal, comprei um guia
da cidade e ali permaneci até que aquele casal embarcasse em algum táxi. Só
então retornei à fila e finalmente consegui apanhar o meu. No guia apontei para
o motorista o nome do hotel, o mais caro daquela metrópole e para ele me
mandei. Mas ao transpor o seu chiqueréssimo lobby, quem estava ali fazendo o
check in? A loira e o coroa que eu havia visto no aeroporto! Aí eu pensei: <i>desta vez vou ver de volta o meu saco de
feijão.</i> Cansado de tantos reveses tomei a decisão de permanecer ali, pronto
para o que desse e viesse. Dirigi-me então ao atendente ao lado do casal, sem
me preocupar com o raio da mala. Preenchi a ficha de ingresso e, pasmem, subi
pelo elevador justo na companhia dos dois e de suas malas. Desci primeiro,
entrei na suíte, tomei um belo banho e quando estava prestes a abrir a minha
mala, a campainha estrilou. A porta abri e com quem deparei? Com a loira
dizendo no bom português que havia pegado a minha mala e que queria ma
devolver, desde que eu ficasse com ela também. E com a mala e com a loira
fiquei, numa paixão que durou enquanto durou aquela dinheirama toda, ambos
(dinheiro e loira) pertencentes ao coroa! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Chorando o leite derramado</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A prodigalidade sempre foi a minha marca neste bizarro
Planeta Terra. Quando bebê –dizia a minha mãe- eu mamava, cuspia fora o leite
e, instantes depois, chorava desesperadamente sugando seus vazios peitos. Tudo
que eu ganhava era imediatamente dado ao primeiro que mo pedia, o que me
obrigava a estar sempre tentando obter coisas e vantagens, fosse pela via
honesta, fosse por meio de astúcias e larapices. Para algum sossego meu, o fato
de eu arrebatá-las e dá-las imediatamente me livrava de flagrantes e
inquéritos, mercê da inexistência, em meu poder, do produto surrupiado. Mas
como os resultados de meus trambiques sempre eram achados na posse de amigos e outros
donatários, eles – e não eu – é que paravam nas celas das delegacias. Ingratos,
diziam de mim cobras e lagartos, mas invariavelmente não perdiam os bens por
mim dados, graças às suas má-caratices, aliadas à incompetência da polícia e à
morosidade da justiça. E, assim que se empanturram e enricaram, não mais viram
utilidade em me terem por perto e decidiram me meter naquele avião, duro de
dinheiro como sempre vivi. Sacanas, sequer me preveniram de que em minha
bagagem haviam colocado, junto à tora de fumo e as cumbucas de palha, o raio de
um canivete que, na hora do embarque, quase me levou à prisão, com certeza
graças a esta cara de árabe que Deus ou Alá me legou. É bem verdade que Eles,
em suas infinitas bondades e santidades, me bafejaram com a sorte na troca das
malas. Mas, apesar de Suas onipotências e grandezas, não cuidaram de extirpar
de meu jeito de ser a minha mania atávica de dar tudo pros outros. E não fosse
a minha crônica abertisse de mão eu teria maços e mais maços de dinheiro até o
fim de minha vida. A sorte é que, esvaziada a de dinheiro, me restou a minha
verdadeira mala e, em seu interior, o meu saco de feijão! Sorte é que naquele
Continente em que me encontrava não se come feijão ou farinha! E, inexistindo quem goste de comê-los, não tinha
como os dar, o que constituiu a sorte de minha barriga, mas o concomitante azar
para o exercício regular do meu vício de tudo dar! Prova disso foi o
comportamento daquela loura. Bem que ela poderia ter continuado comigo, mesmo
trocando as caras iguarias e bebidas finas da Alfama, do Moulin Rouge, das
Ramblas ou da Trastevere por uma suculenta feijoada! Mas nem a culpo por isso,
pois como dizem os cientistas é muito difícil mudar de hábitos culturais e mais
difícil ainda mudar de hábitos alimentares. E como não consigo me livrar do
hábito ou vício da prodigalidade; E como o exercício da prodigalidade supõe
necessariamente que eu tenha algo a dar; E como a aquisição de coisas a serem
dadas implica herdar, trabalhar ou delinqüir, ou eu voltava praquele Cu de Gato
de onde fui expulso ou teria que ir à luta no Velho Continente. Monoglota que
sou, poucas alternativas existiam a meu alcance, sem contar a crise econômica
que se abateu sobre os locais e que exponenciou o número de pedintes,
prostitutos e batedores de carteira. Bem
que fui confundido com um festejadíssimo jurisconsulto e convidado para
palestrar numa vetustíssima faculdade à beira do Mondego. Mas assim que abri a
boca, todos os assistentes rodaram as suas capas pretas e sonoramente me
vaiaram. Rápido e apavorado, esgueirei-me por íngremes e tortuosos becos e,
três dias de sofrida caminhada, cheguei a um desmantelado mosteiro. Roto e
esfarrapado que me encontrava, fui admitido como frade menor, com a função de
esvaziar urinóis em troca de sobras de tripas e vinhos avinagrados pelo mau
hálito dos frades maiores. Tudo ia muito bem até o dia em que perceberam que eu
não sabia declamar uma Ave Maria sequer, muito menos o Padre Nosso. Puseram-me
no olho da rua, mas logo arranjei uma boquinha de guia turístico, estreando
justo num misto de congresso científico, romaria e peregrinação, cujos
participantes eram advogados públicos, falantes da mesma língua que falo. O meu
serviço era ficar sentado na poltrona da frente de um ônibus, narrando num
microfone a história daquelas plagas pelos trajetos. Embora chutando nomes de
reis, rainhas e santos inexistentes, batalhas e milagres que nunca aconteceram,
inventando nomes de povoados e aldeias, tudo ia muito bem, mesmo porque, feito
eu, eles eram tão ou mais ignorantes daquilo que viam, sem contar que a maioria
dormia enquanto eu falava feito homem da cobra. Os que não dormiam reviravam e
admiravam as quinquilharias compradas ao longo do trajeto. Mas a minha
empulhação durou pouco, pois simplesmente os fiz subir a pé por uma
quilométrica ladeira, não levando em consideração que quase todos eram bem
erados, brabos e ciosos de seus títulos, cargos, prerrogativas e o escambau,
pois até ministro de Estado seguia naquela comitiva. Não sei se por caduquice
ou falta de educação, eles vaiavam quando deviam aplaudir e aplaudiam quando
deviam apupar. Então me mandei daquele ônibus, consegui uma carona e, em
seguida, uma vaga de valete de hotel a troco de dormida e comida. Mas qual a
minha danação! Escalado para acordar os hóspedes, fui à manhã seguinte à porta
da suíte de um deles e o chamei. Na primeira chamada, ele não respondeu e então
dei três toques na porta. Aí ele ralhou comigo: - não vou não! Aí eu disse “vai
sim” e o ameacei de retirá-lo à força daquele quarto, embora três vezes mais
pesado do que eu. Pois não é que o sujeito fazia parte da comitiva que me
expulsou do ônibus! Gelei e fui ao gerente pedindo a troca de função.
Mandaram-me então para a copa, onde eu julgava estar a salvo da ira daquele
grupo, sobretudo de uma procuradora bem magra, de cabelos pretos e curtos, que
a cada momento dava ordem unida e enquadrava os peregrinos, romeiros e
congressistas. Certa hora, porém, me vi na obrigação de ir ao salão de jantar
conduzindo uma bandeja de taças. Aí um baixinho meio careca, de posse de uma
garrafa d água, me pediu um copo. Como taça não é copo, ignorei o seu pedido e
ele ficou colérico e possesso. Outro, acho que o adjunto de ministro, pediu-me
uma garrafa de vinho e três taças. Atendi-o prontamente enchendo as três taças,
mas levando comigo o restante da garrafa de vinho. Ele, raivoso, ma pediu de
volta, não admitindo que errara no pedido, e ainda por cima me entregou à
gerência, pondo fim àquela brilhante carreira no trade hoteleiro lusitano. Corri
daquele hotel, da cidade e do próprio país, mas não houve jeito. Parecia
perseguição misturada à assombração, pois em cada local que eu ia trombava com
um ou alguns integrantes daquela mistura de congresso, romaria e peregrinação.
Na Torre Eiffel, vi um deles tentando escalá-la pelo lado de fora, certamente
para não pagar ingresso. Outra, em Montmatre, subiu no cimo de um altar e ali
tentou se sentar no lugar da santa, dizendo-se acima dela por se chamar Maria
Santíssima. Um fez o sinal da cruz no túmulo de Napoleão, pensando que fosse o
do Papa Inocêncio III. Outra tirou blusa e sutiã, e invadiu uma apresentação de
can-can com os seus peitos murchos. Um bem velhinho deu de pescar em pleno Rio
Sena, pensando que fosse o São Francisco. Em Versalhes, uma pirou, dizendo que
era Maria Antonieta, enquanto todos diziam que ela havia ficado em Pernambuco.
Um, em plena Opera, invadiu o palco e começou a cantar Assum Preto. Um belo
casal, num chique restaurante na Champs Elisees, queria por que queria comer
gueroba com pequi. No Louvre, um bem tirado a conhecedor de arte brigou com o
guarda dizendo que a Monalisa ali exposta não passava de um retrato 3x4. Um, ao
ouvir as genialidades de Leonardo da Vinci, disse, vermelho a custa de Viagra,
que conseguia dar o dobro do que ele: quarenta sem tirar de dentro! Outra
comprou todo o estoque da Galeria Lafayette, lotando centenas de trens do metrô
e fazendo oscilar fortemente a cotação do Euro. Aí eu não tinha como ficar mais
ali e me mandei para um país próximo, justo no dia da beatificação de um novo
santo. Mas como faltava ao novel beato a realização de mais um milagre, resolvi
dar o meu testemunho de fé, contando toda aquela saga por que passei e dizendo
que foi a fé no beato que me impediu de ser levado para o hospício ou
cemitério. E o Papa, reconhecendo tudo aquilo como milagre, na mesma hora
assinou a portaria de canonização. Foi sorte, pois minutos depois comecei a ver
a Praça de São Pedro invadida por aquele grupo que tanta dor de cabeça me deu.
Por conta do milagre, agora virei pastorinho e quiçá um dia serei também
canonizado e receberei visitas de romeiros e peregrinos do mundo inteiro, menos
aqueles vindos de lá do Brasil! Enquanto, todavia, esse dia não vem, não posso
ficar assim movido a uma ração de farinha e feijão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Nem mel nem cabaça<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Nada de dinheiro, fiquei no pelo e osso e com uma descomunal
barba, a ponto de ter sido várias vezes confundido com Bin Laden, mesmo ele
tendo sido morto dia seguinte à beatificação para cujo sucesso tanto concorri.
E por conta da confusão, cristãos não me aceitavam por conta daquela parecença,
nem muçulmanos me toleravam por conta da minha futura beatificação. De bom que
tal sosiedade com Bin Laden me proporcionou foi o convite que recebi dos
republicanos para que eu me passasse por ele. Tudo certo após eu aprender
algumas palavras em árabe, mas na primeira simulação de entrevista eu deixei
escapar o meu indefectível “uai”, mandando pra água abaixo a chance de amealhar
um monte de dinheiro. Resolvi então mais uma vez mudar de país, justo no dia em
que topei com um casal em lua de mel. Ele se dizia príncipe e ela plebéia, mas
a avançada idade do carro em que eles passeavam me sinalizava que não. Mesmo os
tomando por dois patifes tentando ludibriar um terceiro-mundista, compartilhei
com eles, fruto da minha prodigalidade, meus últimos grãos de feijão. Quiseram
que eu seguisse viagem com eles, mas menti que não possuía carteira de
motorista. Prometeram uma boquinha em seu suposto castelo e até um cargo de
primeiro-ministro, assim que a avó batesse a caçoleta e o pai renunciasse ao
trono, por conta da feiúra da madrasta. Tomei tudo aquilo por uma farsa e não
os segui. Mas dia seguinte, passando por uma banca de revista, vi ambos na
primeira página, bem assim a notícia de que eles haviam partido em lua de mel
para lugar incerto e não sabido. Num tablóide sensacionalista, uma polpuda
oferta a quem desse pistas de seu paradeiro. Voltei ao lugar onde os havia
encontrado, procurei, procurei até que vi ao longe, num ponto ermo da praia, um
casal entre beijos e amassos. Eram eles, pensei! Mas como os fotografar se eu
não tinha câmera ou um reles aparelho celular? Aproximei-me, certo de que eles
seriam amáveis como foram no encontro anterior e certo também de que eles, com
sua própria máquina, se deixariam ser por mim fotografados. Mas assim que me
viram faltaram me matar, fazendo gestos de que o feijão que os dei de comer
desarranjou seus intestinos. Putos, dali se mandaram e eu ali fiquei num bico
de vender picolés. Por muitos dias evitei passar por aquele ponto da praia em
que eu havia os encontrado, pois isso açularia em mim o ódio de não os ter
fotografado ou até mesmo seqüestrado, levando ambos à presença dos editores de
tablóides sensacionalistas. Mas uma semana depois, acabei por passar por lá,
quando num bilhete deparei a palavra Seychelles. De um turista consegui
emprestado um mapa e deles roubei um iate bem próximo ancorado e zarpei em
direção àquela ilha. Inteiramente analfabeto nas artes de marear, finalmente
bati com os costados numa que supus Seychelles. Assim que acabei de amarrar o
iate, uma voz conhecida bradou o meu nome. E quando voltei para trás, era a voz
da guia turística que havia sido minha colega no outro ônibus do
congresso-peregrinação-romaria de tão triste memória. E atrás dela todos
aqueles advogados públicos gritando e xingando. Mal desamarrei as cordas, ela
trepou no convés do iate e nos mandamos dali. Aí eu me pus a pensar quão
tortuosas são as rotas do destino. Quão incongruentes as coisas que me
acontecem, pois a bordo de um iate daqueles eu deveria estar em uma companhia
mais bela e mais gostosa do que a daquela insossa guia. Mas o mesmo destino que
traça tortuosas rotas acaba às vezes por nos levar a infernos, mas também a
paraísos. E foi o que aconteceu. Primeiro o inferno, ao sermos rendidos por uma
malta de piratas, os quais apesar de afastados do sexo por muitos meses, sequer
se interessaram pela colega guia turística. Mas ao paraíso, assim que eles nos
entregaram ao seu chefe e ele gritou: é o Bin Laden! E eu, dizendo que sim,
apresentei a guia como uma das minhas esposas. Deram-nos roupas limpas e a mim,
sabedores de que eu tinha muitas outras, um monte de mulheres, cabendo à guia a
primazia de conduzi-las naquele imenso harém, com direito a dizer que em tal
lugar viveu o Sultão Aladin XXVII, que na caverna tal escondia Ali Babá, tal
qual costumava fazer no microfone do ônibus. Àquela altura eu já era um homem
fraco em todos os sentidos, inclusive no sentido libidinal. Mas a posse de
tantas esposas tinha lá a sua vantagem, mesmo para um impotente como eu. A cada
noite eu me deitava com uma, mas não conseguia dar conta do recado. Ela, no
entanto, compreendia a minha falha, na suposição de que eu deitara antes com
todas as outras trinta e nove esposas. No início eu imaginava o chefe dos
piratas me entregando para os republicanos, como um troféu capaz de enterrar de
vez a reeleição democrata. Mas o tempo foi dizendo que infundadas eram tais
suposições, tal o carinho com que o flibusteiro me tratava. Certo dia, todavia,
ele chegou a mim cheio de dedos e nove horas para finalmente e muito
semgraçamente me propor uma troca: ele me daria sua arca de ouro em troca da
guia turística que ele supunha ser a minha primeira esposa. Topei na hora e,
dia seguinte, zarpei da ilha, sozinho, transportando aquele montão de ouro. Mas
nem bem chegado ao mar alto, os mesmos piratas me atacaram, jogaram-me no mar e
sumiram com navio e tesouros. A extrema magreza impediu que eu afundasse e a
falta de carnes que algum tubarão me comesse. E foi boiando por muitos meses
que finalmente bati os costados em uma praia. Nas noites inteiramente nuas de
nuvens, eu me extasiava com meteoritos, meteoros, planetas, estrelas, antigas,
novas e supernovas, anãs brancas, galáxias, além de objetos alados que eu não
conhecia, o que me permitiu compreender a teoria de Einstein. Mas todo aquele
conhecimento de nada me servia, pois uma dúvida apoquentava a minha cabeça. E boiando
e não tendo nada a fazer senão pensar, eu não cansava de me perguntar o que de
interessante havia naquela guia que eu não vi? Tudo se passava por minha
cabeça. Seria ela a preferida de algum milionário? Herdeira presuntiva de algum
trono de uma monarquia prestes a ser reinstaurada? Uma cientista que havia
obtido a fórmula do elixir da longevidade? Mas a única hipótese tida por mim
como plausível era o fato de que aquele bando de procuradores não mais
conseguia viver sem ela e, por isso, ela poderia valer ao pirata-mór um
suculento butim a título de resgate. Um ano havia se passado desde o dia em que
eu me vi na confusão das malas. Aos poucos fui me fartando de cocos e
caranguejos e me enturmando com os nativos que lá encontrei. E, passado um ano, era hora de procurar saber
onde seria realizado o décimo sétimo congresso. Nem precisei tentar saber, pois
três grandes ônibus repentinamente chegaram àquela praia e no da frente, nas
duas poltronas da frente, a procuradora magrela, de cabelos curtos e pretos,
dando vozes de comando e a guia dizendo “aqui viveu o Rei Platão”, “logo ali o
Jogador Sócrates”, “Acolá, Arquimedes, Anaximandro, Pitágoras e mais adiante”,
apontando para mim, “aquele pelado, enfiado numa tina, descendente de um
filósofo grego de nome Diógenes, o Cão Celestial!” Na hora saquei que na Grécia
estava começando o XVII CONPPREV!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O cão ladra e a caravana passa<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Como fiquei sofrendo e batendo pernas pelo mundo, entre a
realização do XVI e a do XVII um ano depois, não pude participar da organização
desse que é o mais importante e inusitado conclave que ocorre no Planeta, quiçá
no Universo. Presumo, todavia, que eu teria sofrido infinitamente mais do que sofri
se eu tivesse retornado a Cu de Gato e tivesse me metido na sua Comissão
Organizadora. Rugas, pelancas, hematomas, braços em tipóia, falta de dentes
eram visivelmente percebidos em toda a hierarquia da entidade de classe,
organizadora do conclave, num claro sintoma de eles passaram o ano na mais
completa guerra. Como não vi participantes das versões anteriores, conclui que
alguns tombaram na luta. Concluí também que refregas, embates e bafafás
produzem efeitos diferentes nas pessoas que deles participam. A maioria,
obviamente, feito mutilados de guerra, traz em seus corpos e mentes os
deletérios efeitos da vida bélica. Alguns, no entanto, não sofrem nem perecem,
mas, ao contrário, parecem que se rejuvenescem quanto mais guerreiam. Mas,
enfim, não obstante toda sorte de desentendimentos que precede o evento, ele
sempre foi um sucesso e não será desta vez diferente. É óbvio que o mundo mudou
enormemente entre o XVI e o XVII, pois Bin Laden morreu no término do anterior,
um Papa foi precocemente canonizado, um terremoto sacudiu Roma e a Espanha e
mais um montão de acontecimentos que não teriam ocorrido não fosse a realização
de nosso Congresso. Mas apesar de toda essa força transformadora, acho que o
tempo passou para mim e não faz sentido que eu saia de dentro desta tina, tome
um banho, raspe a minha barba, me meta num terno e acompanhe, de ilha em ilha,
a minha velha turma. Como sumi deles nos últimos doze meses, o lógico seria
supor que eles me consideram morto. Mas não vejo na programação do evento nada
que lembre a minha existência, eu que tive o privilégio de presidir vários
congressos. Acho até que a maioria se sente aliviada, pois em meu tempo longas
e enfadonhas eram as palestras, quando congresso é a oportunidade que o ser
humano tem de fazer o que gosta. Quando mais jovens, todos gostavam de dançar,
cantar, namorar... Mas a ciência demonstra que o ser humano, mesmo o mais
incréu, o mais ateu, enfia de cabeça no misticismo assim que o peso da idade
abate sobre ele. Nisso, portanto, reside a explicação de os congressos terem
paulatinamente modificado os seus conteúdos programáticos, enfatizando romarias,
procissões, peregrinações e atividades similares e/ou correlatas. Mas como esse
tipo de modificação comportamental resulta de algo que não brota do livre
arbítrio, posto que um reflexo incondicionado, tal modalidade de misticismo
difere da fé professada pelos místicos de verdade. Como é forçada, não pela
vontade de crer, mas como sintoma inafastável do peso da idade, eles praguejam,
xingam e resmungam ao terem que visitar os lugares sagrados. De igual modo,
eles detestam guias que ficam narrando coisas do passado, mesmo porque a
maioria foi testemunha ocular dos fatos narrados e ninguém gosta dos que querem
ensinar padre-nosso ao vigário. Não tiro a razão deles, até porque muitos foram
pareceristas em eventos épicos narrados pelos guias e alguns participaram de
muitas cerimônias reais do passado. É óbvio que alguns exageram, inclusive um
distinto colega que jura que trabalhou no processo que antecipou a maioridade
de um monarca de dupla numeração: Pedro I e também IV! Também me incomoda o
porquê de eles ultimamente, na escolha do local de seus congressos, optarem por
antiguidades e ruínas, se antes praias paradisíacas, estâncias termais,
transatlânticos enfim eram sede dos conclaves! É óbvio que eu, depois de entrar
pelado nesta tina e de estar em pleno solo grego, dei de filosofar e buscar um
sentido lógico para tudo que vejo. Mas como o hábito (ou, no meu caso, a falta
dele) não faz um monge, essas minhas conclusões carecem de bases científicas e
temo até que possam ser entendidas como inveja ou ressentimento por não
participar de mais um congresso, eu que sempre fui um conpreviano praticante e
juramentado. E assim, enquanto eu ladrava, a caravana congressual passava!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Os Filósofos</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Vi o último congressista tomar o ônibus, carregado de sacolas,
e levar a tradicional vaia. Logo o último ônibus arrancou. Nem bem, de dentro
da minha tina, tentei puxar um cochilo, ouvi choros e gritaria. Simplesmente um
grupo chegou atrasado, quando o último ônibus já sumia na curva da estradinha
de areia. Eu conhecia todos aqueles rostos e nutria por eles o maior carinho.
Se ao invés da tina, eu morasse, por exemplo, num palácio, ou mesmo numa
habitação mais decente, com certeza eu teria os convidado a entrar e ali eu
certamente arrefeceria, com bebidas, comidas, boa música, a perda que sofreram.
De igual modo, de nada adiantaria eu me apresentar a eles como velho colega, se
nada em mim lembrava aquele cara metido em ternos bem cortados, camisas
engomadas, lustrosos sapatos, bótons dourados, o verdadeiro rei da cocada
preta, enfim! Eles, me vendo nu e
esquálido, com aquela horrível barba desgrenhada e saindo de uma velha tina
jogada num canto de praia, jamais imaginariam que eu era aquela pessoa tão glamorosa
que eles conheceram. Mais irreconhecível ainda eu seria, se além do meu aspecto
físico, eles percebessem o quanto me mudei mentalmente, entrando no estéril e
inútil campo da filosofia, próprio dos párias e desocupados, quando eu deveria
dedicar o meu engenho e arte àquilo que eles dedicavam e que também dediquei
antes de minha débâcle. Na tina, por conseguinte, quietinho permaneci, não com
o sentimento de culpa de não lhes ter propiciado o dever da hospitalidade,
justo numa hora tão adversa como aquela que eles passavam. A noite caía e eles
se esforçavam em arranjarem uma carona, mas nada de aparecer uma reles carroça,
quem dirá um táxi. Eu torcia para que eles conseguissem um transporte, não por
ver em suas presenças um fator de incômodo para mim. Eles, por seu turno,
sequer percebiam a minha presença ali e se percebiam dela não se introjetavam,
sabido cientificamente que o ser humano tende a não enxergar os que se parecem
fisionomicamente inferiores, como é o caso dos faxineiros, ascensoristas e
afins. Mas eu também torcia para que eles fossem porque assim que caía a noite
eu recebia as mais interessantes visitas e elas não gostavam de estranhos por
perto. Eram amigos que consegui em solo grego, destes que jamais pedem coisas,
nos invejam ou falam mal da gente. Amigos que, vendo o outro na mais absurda provação,
jamais dão as costas ou temem serem importunados com pedidos de ajuda ou com
acenos de reciprocidade em relação a um benefício anteriormente proporcionado.
Amigos capazes de se sentirem na minha velha tina como que se estivessem no
mais opulento dos castelos: OS FILÓSOFOS! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Um bom conselho<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">De Cu de Gato somente a saudade de todas aquelas coisas que
eu surrupiava e, com elas, exercitava o meu hobby de presentear as pessoas.
Apesar de muitos atribuírem aspectos utilitaristas àquela minha prodigalidade
crônica, confesso que o fazia pelo simples prazer de me agradar, agradando ao
mesmo tempo as pessoas. Eu, sinceramente, não vindicava reciprocidade, tanto é
verdade que muitos dos meus beneficiários se voltavam contra mim. Eu sabia de
cor uma frase que dizia que “o dia do benefício é a véspera da ingratidão”, mas
mesmo compreendendo em sua plenitude o que ela dizia, ainda assim eu continuava
distribuindo mimos, presentes e agrados a todos que eu encontrava. Às vezes,
por engano, eu surrupiava algo que eu próprio dei de presente. Nesse caso, diz
a lei vigente no ordenamento de Cu de Gato, não se constituía roubo ou furto,
sobretudo na hipótese de o donatário não ter exercitado o dever da gratidão em
relação a mim. A lei de lá é clara: verificada a ingratidão, a doação é
automaticamente desfeita e o bem anteriormente dado volta ao patrimônio do
doador. Mas eles nunca voltavam e, por incrível que pareça, os beneficiários me
processavam por furto ou roubo, o que invariavelmente não dava em nada, na medida
em que eu, no instante que o surrupiava, passava o objeto para frente. Aqui,
como nada possuo, nada posso ofertar. Como nunca me vali de outro artifício
para roubar, senão a língua, o fato de não falar a daqui me impede de exercitar
aquele hobby tão caro a mim, quando eu vivia em Cu de Gato. Assim, jogado na
mais absoluta ociosidade e sem perspectivas de outra ocupação, não me resta
outra coisa a fazer senão filosofices. E como a arte de filosofar tem por
ingredientes fatos passados, os quais são submetidos a premissas, postulados e
leis, é que eu acabo por remexer o meu velho baú de memórias. Só por isso as
remexo, nunca por ressentimentos! Aliás, no íntimo estou gostando mais de mim
como ora sou, do que como eu era anteriormente. Aquele meu jeito de ser antanho
era complicado, dificultoso e oneroso, na medida em que eu perdia muito tempo
me lavando, afeitando barba, cortando cabelo, aparando unhas, trocando de finas
roupas e tantas outras obrigações que hoje não tenho. E como a vida que levo
hoje se deve ao comportamento dos cugatenses em relação a mim, seria uma ingratidão
eu alimentar ressentimentos em relação a eles. Se os alimentasse, eu estaria
contrariando a própria legislação cugatense, incidindo em algo que poderia
acarretar o desfazimento da boa vida que me legaram. Nesse caso, eu teria que
sair dessa tina, tomar banho, raspar a minha longa barba, cortar as minhas
unhas, me meter num terno, dar um belo laço na gravata, providenciar uma 007,
celular, tablet, bóton, cartão de visita e voltar para o meu antigo batente. Exceto
os mórmons que bem souberam escolher um Deus que lhes garantem a transladação
de todos os seus bens quando partem para outra vida, não conheço um possuidor
de coisas que não fique de cabelo em pé em saber que, ao morrer, não terá como
levá-las junto. Deste mal eu, pelo menos, não sofro, mesmo porque nem minha é
esta tina, nem meus são estes pensamentos, de modo que prefiro não alimentar
ressentimentos e conservar junto de mim o nada que me legaram. Como nada é
nada, ao contrário deles, feito os mórmons eu o levarei junto. Com efeito,
Cristo, apesar de sua potência, não castigou Judas, pois sem a traição de Judas
ele jamais teria chegado a Cristo! De igual modo, sem a expulsão a mim
infligida pelos cugatenses, eu jamais chegaria à confortável situação de não
ter coisas me incomodando, pedindo que eu as conserve, que eu as conserte, que
delas eu obtenha lucros e que para elas eu busque uma destinação que não seja a
sua dissipação pelos herdeiros, sobretudo os genros ou o governo! Mas voltando
ao misto de congresso-romaria-peregrinação, sem querer me meter em sua
concepção, penso ter chegado a hora de uma séria discussão sobre isso: um
painel ou um workshoping com a presença de economistas, estrategistas,
especialistas em finanças e cooperativismo, advinhos e malabaristas com vistas
a dotar a classe de conhecimentos de como gerir bens nos estertores da morte.
Mas que não me chamem para uma palestra, pois ela será curta e eu apedrejado,
pois o tema que eu escolheria seria: <b><i>Torrem tudo, enquanto ainda há tempo! <o:p></o:p></i></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A Recaída<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Assim que acordei e pus a minha cara para fora da tina,
deparei com mais aquela horda de turistas que aqui chega diariamente. Mas isso
seria um acontecimento banal e corriqueiro não fosse a visão de um deles
puxando uma mala idêntica àquelas duas que passaram por minhas mãos em época
não muito recente. Como ambas foram por mim esvaziadas, eu, a principio, nada
deveria regozijar (pelo monte de dinheiro) ou temer (pelos inconvenientes de
muito dinheiro ter)! Embora, por segundos, essas sensações antípodas acabaram
por passar por mim, logo fui restituído à minha habitual calma e continuei na
minha azáfama diária de só pensar. Mas como a noite anterior foi fraca no
quesito das visitas que recebo em minha tina, pobres eram os meus pensamentos
naquele dia, o que abriu brecha para que, volta e meia, eu pensasse naquele
sujeito e em sua mala. Exceto, porém, aquela visão no início da manhã, o dia
transcorreu sem que eu os visse, o que me levou a uma série de conjecturas,
desde as óbvias como “ele deu entrada num hotel” às mais extremas do tipo “ele
enterrou a mala na areia”! Como os vi, mala e sujeito, a uma distância
considerável, e como não disponho de binóculos, por exemplo, não pude me
acercar, sobretudo em relação ao macróbio, se ele era aquele coroa do qual subtraí a loura e a mala e se esta
última era realmente uma daquelas, sobretudo a mais rica. Como a minha visão
mais se deteve nela do que nele, elementos de convicção se reforçaram em mim de
que com muita certeza ela era uma ou outra, daquelas que se alternaram em
minhas mãos em época não muito distante. E aí eu me pus a imaginar sobre o seu
conteúdo. Observei que o seu carregador não transparecia dificuldades em
carregá-la. Por outro lado, notei que os seus sapatos afundavam na areia numa
proporção bem superior à dos demais turistas, o que poderia evidenciar o seu
sobrepeso. Mas ele, carregador, parecia mais gordo do que os demais! Gordo, ou
suas roupas eram folgadas e disfarçavam a sua magreza? Mas se fosse magro,
incongruente seria supor a sua tranquila deambulação com aquele peso todo que
eu supunha estar em seu interior. Aí eu me pilhei, naquelas divagações,
privilegiando a suposta riqueza contida em seu interior, não a possibilidade de
ela estar vazia ou quando muito recheada de molambos, feijão e farinha, como
estava a primeira que carreguei em data não muito recente. Aliás, me pilhei
divagando sobre a hipótese de ela ser uma daquelas, quando seria razoável, em
se tratando de mim, imaginá-la apenas como mais uma dos milhares que saíram,
idênticas, da linha de montagem de seu fabricante. Se a noite anterior tivesse
sido pródiga em filósofos visitadores de minha tina, com certeza eu perfilharia
esta última hipótese ou talvez nem tivesse açulado a minha curiosidade em
relação à mala que vi na mão do turista. Mas, por mais que me esforçasse em
sentido contrário, lucubrações sobre o raio da mala fervilhavam em minha
cabeça. Cheguei a agachar-me dentro da tina, cabeceando o seu fundo, quando um
pensamento extremo me transportou sobre mares e eu cheguei a Cu de Gato, com
ela a tiracolo, onde distribuí todo o dinheiro. Em segundos, mudei de idéia e
comprei tudo que havia de melhor, para inveja dos cugatenses. Mais algumas
cabeçadas no fundo da velha tina, imaginei-a fornida somente de feijões e com
eles sonhei saciar a fome do mundo. Finalmente, com a testa tomada por
hematomas, tomei-a por literalmente vazia e sosseguei. A noite caiu e, como os
turistas resolveram ficar, não recebi as minhas visitas. Nervoso, me pus a
andar pela praia, chutando latas e restos de comida, quando o meu pé direito
esbarrou em algo que logo imaginei fosse uma mala ali enterrada. Apertei um
pouco mais e senti a aspereza de uma lona. Tateei-a e o meu pé, ao sentir o
metal de seu zíper, mandou para o meu cérebro a conclusão que era de fato uma
mala. Fiz vênia de desenterrá-la, mas fui dissuadido pela presença de todos
aqueles vultos andando pela praia. Pensei passar a noite perto dela, mas temi
que eu pudesse perder a minha tina, abandonada cerca de um quilômetro. Ponderei
que, com o conteúdo da mala, eu poderia comprar não outra tina, mas todas as
tinas do mundo, mas logo me redargüi sobre a hipótese de ela estar vazia ou sem
dinheiro. E aí, pelo sim pelo não, não quis trocar o certo pelo duvidoso e saí
imediatamente dali, indo em direção à velha tina. Mas ao passar por um trecho
ermo da praia, topei com um casal ali a transar. Embora fraca a luz da lua, um
corpo escultural ofuscou os meus olhos e a sua silhueta coincidiu exatamente
com a da loura que ainda estava gravada em minha retina. Aproximei-me um pouco mais e tudo nela, do
montinho negro de Vênus contrastando com aquela brancura de pele, ao dourado de
seus cabelos refletindo os raios da lua, me acerquei de que ambas, mala e
loura, estavam novamente próximas a mim, quem sabe à procura de mim ou
propensas a que eu as encontrasse. Tomei aquilo como algo do destino e
filosofei sobre se deve ou não se curvar ante os seus desígnios e, em se
curvando, até que ponto isso significa contrariar os nossos princípios. Tomei o
partido dos princípios e reprincipiei minha caminhada rumo à tina, quando vi um
turista se afogando, enquanto os de sua turma sequer esboçavam qualquer gesto
em salvá-lo. Notei que pelos chapéus e língua eram chineses e me lembrei que
vigora em algum lugar da China uma lei que proíbe alguém salvar os que estão se
afogando, pois isso interfere no regular desiderato de seus destinos. Mudei
então de idéia, abracei o partido do destino como força superior à dos
princípios e voltei ao lugar em que momentos antes topei com aquele animado
casal. Mas em lá chegando não os vi mais. Dirigi-me, então ao lugar em que eu
supunha estar enterrada a mala, mas como não o assinalei, acabei por varar a
madrugada revolvendo montes e mais montes de areia e nada encontrando. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Encontro<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Dia quase raiando, ao longe vi a minha tina. Exausto de tanto
cavar areia e nada encontrar, não via a hora de lá chegar e descansar o meu
pobre esqueleto. Mas lenta era a minha jornada, fruto do cansaço e do fofo da
areia sob os meus pés. Enquanto caminhava, eu me penitenciava pela quase
recaída, mas ao mesmo tempo me sentia feliz ao ver a minha tina cada vez mais
perto. Via-me, ao final do dia, em animado papo com as minhas visitas, bebendo
na boa fonte as mais acertadas conclusões, sobretudo acerca da primazia, ou
não, dos princípios sobre o destino e me prometendo, fosse qual fosse a
conclusão, me aferrar inarredavelmente a ela, não obstante quaisquer apelos que
cruzassem o meu caminho, sobretudo os de natureza libidinosa, mercê de minha
impotência. Aos poucos, o vento frio da manhã, vindo do mar em direção ao
continente, foi arejando a minha cabeça, espanando toda aquela poeira de maus
pensamentos e inteiramente limpo cheguei perto da minha querida tina. Mas
quando levantei a perna direita, tentando alçá-la e entrar em seu continente,
um susto: - <i>Suma daqui... desapareça!</i>
Ela simplesmente havia sido invadida e de seu interior jorravam frases
inamistosas, pontuada por gestos beligerantes, socos dados para o alto, sem que
fosse possível divisar a fisionomia de quem os desferiam. Ponderei que a tina
era minha, mas o invasor pediu que eu provasse, exigindo-me até a apresentação
de coisas como escritura, pagamentos de taxas e correspondência a mim destinada
naquele endereço. Pensei partir para as vias de fato, mas quando tentei por a
cara em seu interior, um punhado de areia saído lá de dentro turvou a minha
visão. Por minutos fiquei com os meus olhos ardendo feito brasa e consegui
lavá-los com a água do mar, enquanto uma voz cada vez mais distante gritava: <i>fique com a mala e com a loira! </i>Aí,
ainda meio cego, supus que o invasor havia fugido e me deixado, além da mala e
da loira que eu não mais desejava possuir, a minha inseparável tina. Mas qual nada!
Assim que a visão recobrei concluí que o sujeito era realmente o coroa e que
ele havia fugido com a minha velha tina. Corri o quanto pude, mas ambos, velho
e tina, sumiram naquela imensidão. E eu que até pensava imune a perdas; e eu
que me imaginava inteiramente desapegado de coisas materiais, ali a lamentar o
roubo de uma tina, que nem minha verdadeiramente era, sem contar o fato de que
eu não sou descendente do louco Cão Celestial, não sendo seu herdeiro,
portanto! Mas eu estava ali nu, na mais acentuada acepção do termo. E, naquela
circunstância, encontrar aquela mala não mais era uma questão de destino ou de
principio, mas a escancarada acepção do estado de necessidade, com a sua força
de afastar de meu gesto pruridos de culpa, por exemplo. Resoluto, parti rumo à
maldita mala, torcendo que nela, ao invés de dinheiro, eu encontrasse pelo
menos roupa. Cego de raiva e dos efeitos da areia irritando os meus olhos saí
cavando a esmo até que esbarrei num corpo deitado na praia. Era a loira e ele
se desmanchava a me ver! Mas eu nada
queria com ela e dela, feito um brutamontes, me desvencilhei, seguindo no meu
afã de a mala encontrar. Fui até o fim da praia, esquadrinhando-a palmo a palmo
e nada de encontrar o raio de mala. Cansado e sem o conforto da tina, ali mesmo
deitei e me pus a sonhar, sonhar sobretudo encontrando a mala que eu, sem
sombra de dúvida, vi ali enterrada. Mas aos poucos meu sonho foi se embrenhando
por caminhos de meu inconsciente há muito não navegados. E, de repente, ele
chegou à morada dos instintos sexuais e aquela loira, horas antes por mim espancada
e enxotava, se enleava em mim e me acariciava, enquanto uma inusitada ereção
pendia de meu corpo feito as palmeiras em volta. E aí eu me dei conta de que
nem tudo estava perdido, ou melhor, o que eu julgava perdido – a minha velha
ereção – estava ali de volta, rija e pulsante como dantes, enquanto a loira
certamente perambulava por perto. Desisti, então, de procurar a malsinada mala,
dando-me por satisfeito em achar aquela apetitosa loira, para transformar em
realidade o sonho que eu acabara de sonhar. Voltei, então, ao lugar onde ela se
deitara e ao longe, espetado num monte de areia revolvida, um bilhete: - <b><i>A
mala estava enterrada aqui</i></b>! De fato, a silhueta dela estava estampada
no fundo do buraco, sendo possível ler a sua marca invertida e em baixo relevo.
Mas como as esvaziei, torrando todo o dinheiro de uma e, em seguida, comendo
todos os feijões da outra, por que o coroa e a loira trouxeram uma ou outra? Se
a enterraram, isso significa que nada havia em seu conteúdo ou se havia era
insignificante? Ou a enterraram justamente por que nela jazia um tesouro? Essas
e mil indagações fervilhavam em minha cabeça, ponteadas pela tristeza do sumiço
da loira e principalmente de minha tina. Despossuído de tudo, inclusive da
esperança de encontrá-las, mala, loira ou a minha velha tina, pela primeira vez
brotou o desejo de morrer ou de voltar para Cu de Gato. Mas como?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">A Volta</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Aos poucos Cu de Gato não me saía da lembrança. Desde o
esbulho possessório da tina de que fui vítima, os filósofos não mais me
visitavam e, longe de seus ensinamentos, os meus valores, tidos por mim como
inabaláveis como os penhascos no centro da ilha, pendiam por se corromperem. Nu
que me achava e sem o abrigo da tina, pela primeira vez na vida me apropriei de
algo, não para exercitar a antiga prodigalidade, mas para o meu próprio uso: um
velho calção de banho, enquanto o seu proprietário se banhava distraidamente num
ponto distante da linha da praia. Como roubar e coçar é só começar, ao cair da
tarde daquele mesmo dia eu já estava metido num bom terno, sentado à mesa de um
fino restaurante, donde saí ao volante de um possante esportivo, ali
estacionado com as chaves na ignição. Ao sair daquele repasto, repondo em minha
carteira o troco recebido, dei um encontrão num mendigo que a mão me estendia à
porta e, naquele instante, me dei por curado do vício de tudo dar. Dancei a
noite toda e amanheci naquela suíte presidencial, ao lado de três estupendas
garotas, uma mais gostosa do que a outra. Como há muito tempo não fazia, assim
que abri os olhos rendi todas as graças a Deus, rezei e me persignei pelo fato
de Ele ter me livrado da prodigalidade, do pavor de roubar por roubar, da
impotência, daquela ingrata loira, do pobre conteúdo da mala de dinheiro e,
sobretudo, daquela horrorosa tina. Àquela altura, para que eu voltasse de
cabeça erguida para Cu de Gato, só me faltava a posse de um jatinho ou de um
estupendo iate. Com certeza, graças à súbita mudança de comportamento, que Deus
ou o destino me bafejou, temor de não me adaptar ali eu não tinha, mesmo porque
me tornei um cugatense da gema. Mas preferi adiar a minha volta, tal o meu
êxito empresarial no Velho Continente. De mais a mais, andando por aqueles
requintados endereços era como em Cu de Gato eu estivesse, tal o número de
turistas endinheirados, vindos de lá. A única coisa que me fazia passar por
local, não por cugatense como eles, era o temor de eles me pedirem as minhas
coisas e eu recair no vício de tudo dar. Pelo contrário, eu àquela altura
tirava deles tudo o que eu podia tirar e sem que eles percebessem. Como obtive
a concessão para explorar os principais museus, mosteiros, castelos e
monumentos, graças ao jeitinho cugatense, cada vez que eles ali entravam mais
engordavam o meu estupendo patrimônio, pois se limitavam a entrarem por uma
porta e saírem por outra sem ao menos admirar uma mera obra de arte! Pagavam
fortunas pela comida de meus restaurantes, mas raramente mexiam nos pratos,
atrasados que são como consumidores de farinha e feijão. Finalmente eu era um
homem realizado e feliz. Embora voando em meus próprios jatos e navegando nos
meus iates, eu pouco cruzava com viajantes. Hospedando-me em minhas próprias
mansões espalhadas por ilhas e continentes, eu raramente os via, pois, apesar
de minha felicidade, ainda insistia em jazer em mim o trauma de ver malas.
Sobretudo o medo de, ao ver uma parecida com aquelas de triste memória,
rebrotar em mim toda aquela sorte de infortúnios e atropelos. É óbvio que tal
possibilidade se arrefeceu quando comprei a fábrica e determinei o fim da
confecção daquele malsinado modelo, substituindo por um bem diferente, cujos
donos poderiam trocá-lo pelo novo e ainda levarem cintos e chapéus como
brindes. De qualquer sorte, aquele velho modelo, se é que ainda resta algum
voando ou navegando por aí, ainda me causa traumas e arrepios, mas me conforta
a força do Poderoso que não falhou em empreitadas tão mais difíceis e não falhará
na ingente tarefa de colocar bem longe de mim alguma mala remanescente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Suposições<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Acordei sem acreditar no que a minha governanta me dizia.
Enquanto despia o meu pijama de seda, ela tentava me convencer de que todos
aqueles jornais traziam uma manchete a meu respeito. O barulho da água da ducha
abafava toda aquela lengalenga, mas ela, do outro lado do vidro do box,
acenava-me com os exemplares dos jornais e eu permanecia impávido, como que
aquilo não fosse comigo. E assim me permaneci ao barbear, ao escolher e vestir
as minhas roupas, ao afagar a minha matilha ao pé da porta do quarto e,
finalmente, ao tomar o café-da-manhã e rumar para a sede de meu conglomerado, a
bordo de um dos meus helicópteros. Nele, pelos fones de comunicação, o piloto
insistia em me dar aquelas mesmas notícias, mas o barulho do rotor me impedia
de ouvir. Já no heliporto, o meu diretor jurídico, nem bem apeei, quase que foi
degolado pela hélice traseira, ao dizer que eu não deveria me submeter àquilo.
Mas, por vontade própria, eu, mesmo não sabendo do que se tratava, disse a ele
que não iria me submeter. Como aprendi que não se deve dar ouvidos a
subordinados, ali mesmo dispensei o piloto e dali decolei rumo a uma de muitas
das minhas ilhas, justo a deserta, na certeza de que ninguém me daria qualquer
espécie de notícia. Pousei e, depois de muito tempo, pude mergulhar na solidão.
Fiz do helicóptero a minha pousada e a pequenez de sua cabine não significava
desconforto para quem por muito tempo viveu dentro de uma tina. A solidão tem
efetivamente as suas vantagens, mas desperta a mania de pensar, conjecturar e
imaginar. E eu, mesmo deliberadamente não tendo querido ouvir aquelas notícias,
me pus a tecer considerações sobre o seu teor. Por muitos dias não me saía da
cabeça que elas tinham a ver com a loira. Como elas pareciam dizer respeito a
se submeter a algo, pensei num exame de DNA, mas eu somente transei com ela em
sonho e as transas reais se deram ao tempo em que eu era impotente e infértil.
Pensei que “se submeter” tinha algo a ver com a forma com que amealhei
fortunas, mas tudo fiz mediante parecer de advogados, sem contar a minha
experiência como um. Tais suposições eram alternadas pela de que acharam a
velha tina e eu teria que me submeter à comprovação de que fui o seu dono. E,
como não poderia deixar de ser, a mala também não me saía da cabeça e eles
queriam que eu comprovasse que de fato ela era minha. E assim os dias foram
passando e o meu estoque de conjecturas aumentando. Em um canto da praia resolvi
então traçar na areia várias colunas, cada uma encimada por uma palavra capaz
de designar os tipos de suposição que passaram por minha cabeça. Dividi-as em
subgrupos do tipo “Cu de Gato”, subdividido em família, profissão, amigos,
trambiques, prodigalidade e outras, e do tipo “Fuga”, “Congresso”, “Mala”,
“Guia Turística”, “Coroa”, “Loira”, “Tina”, “Fase Empresarial” e “Outras a
classificar”. Vários gravetos gastei rabiscando minhas suposições naquela
extensa fila de colunas, cujos escritos eu vigiava constantemente, nomeadamente
contra gaivotas e outras aves marinhas que insistiam em pisoteá-los. Certo é
que aquela faixa de areia se transformou numa gigantesca folha de papel. Mas
quando eu já me dava por satisfeito e partia para a tabulação de todos aqueles
dados imprescindíveis à minha conclusão e tomada de decisão, um pavoroso
tsunami lambeu toda a ilha, levando-me, eu e o helicóptero, de roldão. Quando
dei por mim, eu estava em mar alto, agarrado num tronco de palmeira e sem saber
que rumo tomar, pois somente água eu via para qualquer lado que eu virasse.
Como não era a minha primeira vez como náufrago, me arrepiei ao pensar que a
sorte, feito os raios, não costuma cair no mesmo lugar e aí me pus a raciocinar
feito um possuidor de coisas nos estertores da morte. E aquela ilha, apesar de
varrida pelo tsunami? E todas as outras? E as mansões? E os carrões, iates,
aviões e helicópteros? E os conglomerados, com suas indústrias, financeiras e
imobiliárias? E a minha recheada carteira de aplicações? E eu ali, em pleno
alto mar, agarrado num tronco de palmeira! Enquanto isso o tronco, levando-me
junto, parecia rumar em direção ao nada. As forças que me restavam já não eram
suficientes para a mais tênue remada, quando, ao longe, divisei os contornos de
uma pequena ilha. Animei-me, mas à proporção que ela se aproximava, o refluxo
da onda nos impelia em sentido contrário. Entreguei, então, os pontos, fechei
os olhos e me preparei para a viagem final... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Náufrago de novo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Abri os olhos e que surpresa: uma suntuosa suíte! Numa grande
mesa, todos os tipos de comidas e bebidas, mas ninguém por perto. Tentei me
levantar, mas algo preso na junção de meu braço com antebraço me impediu de
levantar. Olhei e notei que eu estava atrelado a um descomunal garrafão de
soro, cujo conteúdo já se achava próximo a se esgotar. Removi então o
torniquete e retirei a agulha espetada em meu braço. Num arranco, cheguei à
janela e só vi uma luxuriante vegetação em torno da mansarda. Abri a porta da
grande suíte e comecei a gritar por alguém, mas ninguém respondia, muito menos
vinha ao meu encontro. Passei por todas as salas, todos os corredores e todos
os quartos, todos suntuosos e bem arrumados, mas nada de encontrar reles
vivalma. Cheguei a um escritório e meu coração disparou ao ver ali telefones e
terminais de computadores. Os telefones mudos estavam, mas para sorte minha um
dos terminais respondeu prontamente ao aperto de suas teclas. Finalmente eu
poderia mandar uma mensagem para a minha empresa e logo eles me retirariam
daquele tugúrio de fim de mundo. Mas, de sua tela, o pedido para que eu
digitasse uma senha que eu sequer possuía. Levantei-me e me pus a andar em
torno da ilha, tentando achar algum iate ou uma simples canoa capaz de me
transportar para além daquela ilha. Nada achei que se prestasse à arte de
marear, senão o conhecido tronco de palmeira que me trouxe. Por um instante
cheguei a imaginar que eu, morto que me supus, não mais estava no Planeta Terra
e que, graças ao Deus Mórmon, eu havia sido translado com a minha ilha
diretamente para o Céu. Mas, ponderei comigo mesmo que aquilo era uma
estultice, pois a minha vida pregressa jamais me conduziria a alguma plaga
celestial, não obstante valores morais cultivados pelos mórmons, inteiramente
incongruentes com o código deontológico da maioria das religiões. Voltei ao
escritório e me pus a vasculhar mesas e gavetas à cata de alguma pista sobre
aquele local, sobre quem me socorreu e, sobretudo, à procura da maldita senha
que o computador me pedia para digitar. Baldada toda a procura, me pus a
combinar letras do alfabeto, ora números, ora ambos, no afã de acertar a senha
solicitada, mas nada! Exceto de viventes e de meios de comunicação externa, a
ilha estava munida de tudo que um ser humano necessita. Curiosamente, todos os
livros das estantes, todos os filmes, bebidas, charutos e afins eram coisas do
meu gosto, num sintoma de que quem me socorreu e me deixou ali era pessoa
conhecedora do meu jeito de ser. Menos mal, pois aquela era a primeira vez que
eu estava segregado, mas cercado de todo o conforto. Até substâncias
tranqüilizantes, legais e proibidas, capazes de arrefecer o meu estresse eu
achava por todos os cantos. Numa pequena torre da mansarda, binóculos, lunetas
e telescópios para que eu me distraísse observando os astros. Obviamente, não
morria em mim a esperança de que alguém viria ao meu encontro, pois toda aquela
receptividade denotava que o meu ou a minha hostess ou anfitriã era pessoa que
nutria por mim todo o cuidado e apreço. No terceiro dia da espera, um ronco de
avião ou helicóptero e a certeza de que vinha ao meu encontro. Mas nada, ele
passou ao longe, enquanto eu tentava encontrar ali algo capaz de gerar faísca
ou fogo, de forma a me permitir mandar sinais de fumaça. Só então me dei conta
da falta deste item. Mas me lembrei da eletricidade, inclusive no terminal de
computador e me aliviei ao constatar a possibilidade de transformá-la em fogo
assim que me aprouvesse. Afora a solidão, a que eu já me acostumara desde
sempre, aos poucos fui me adaptando e até mesmo gostando de minha estada
naquela ilha, longe dos aborrecimentos da vida empresarial. Embora imprestável
para a comunicação, o computador me permitiu que eu nele registrasse estas
memórias, matando assim o meu tempo. Além de escrever, a luxuriante vegetação
da ilha permitiu extravasar em mim um hobby há muito perdido, o da jardinagem.
Além disso, depois de gororobas insossas, eu já podia me considerar um bom
chef, tantos os livros e dvd´s com as mais variadas receitas, cujos
ingredientes eram facilmente encontráveis na bem fornida despensa da mansarda,
dotada das mais requintadas iguarias, inclusive farinha e feijão. Do mesmo
modo, tamanha a quantidade de bons filmes que assisti, eu poderia simplesmente
dispensar os críticos de cinema dos meus jornais e revistas. Bonecas infláveis
e filmes x-rated aliviavam os meus baixos instintos, de forma que cheguei ao
ponto de desejar jamais ser retirado dali. Certa noite, todavia, ao vasculhar
os céus em busca de algum novo astro, quiçá de um ET, abaixei o tubo da luneta
bem próximo à linha do horizonte e deparei, ao longe, com um grande navio,
cujas janelinhas evidenciavam que não era um cargueiro, mas possivelmente
aqueles cruzeiros ou transatlânticos. Num primeiro momento, por conta da bruma
e da distância, eu não tinha como divisar sua bandeira ou algo que estivesse
escrito em seu casco. Mas a profusão de luzes acesas em seu deck superior e
fogos de artifício soltados a cada instante evidenciavam festa a bordo. Temi
que ele passasse ao largo, mas aos poucos ele foi crescendo nas lentes de minha
luneta. Foi aí então que me lembrei da necessidade de mandar sinais de fumaça e
apressei em preparar um curto-circuito capaz de incandescer uma grande tocha
que havia preparado fazia muito tempo. Removi, então, o tampo de um dos
interruptores, desparafusei o par de fios, mas quando os coloquei em contato
uma pequena explosão cortou toda a energia da ilha. Voltei correndo à torre de
observação, ajustei a luneta rumo ao navio e ele, àquela altura bem mais perto,
se mostrou para mim com todo o seu garbo e grandeza. Deslizei o foco de minha
luneta sobre o seu casco, vi o seu nome e bandeira e, tremulando entre as suas
duas enormes chaminés, uma grande faixa: SALVE O XVIII CONGRESSO NACIONAL DOS
PROC... Não acreditei e, no ato, lívido
e suando frio, desviei repentinamente o foco de minha luneta!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Gran Finale</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Com tantos lugares no mundo para se navegar, me perguntei:
que raio de coisa fez aquele navio parar ali. E com tanta gente para me achar,
por que razão eu ser encontrado justamente por aqueles folgados congressistas?
Eu sequer havia dado conta de que dois anos se passaram desde o dia em que, num
congresso, fui vítima da troca de malas. De igual modo me custava crer que toda
aquela gente ainda estava viva, sobretudo uma entidade de classe que eles
próprios vaticinavam constantemente a sua morte! Mas eram eles mesmos, daquela
feita realizando o seu anual evento em mais um transatlântico. O alarido era
tamanho e tamanha a algazarra a bordo que o navio se jogava mais do que o
habitual, levando-me a temer até por mais um tsunami a varrer aquela ilhota em
que eu estava tão confortavelmente instalado.
Mas lembrando-me de que velhos eram os meus antigos colegas, supus que
toda aquela vitalidade a bordo ou era por conta do Viagra ou a entidade
finalmente havia conseguido concretizar o sonho de filiar os novos
procuradores. Vendo, porém, aquela balbúrdia toda, dei graças a Deus por não
ter conseguido fazer fogo e fumaça, de modo a chamar a atenção de seus
tripulantes e passageiros. Em dúvida quanto à sua verdadeira carga humana,
centrei novamente o foco da luneta em sua direção e, mais perto ainda que ele
estava pude ver cada rosto e identificar, portador por portador, todos eles.
Como rejuvenesceram, pois os seus rostos estavam mais esticados do que égua
puxando carroça! E eu que estava enganado quanto ao êxito na filiação dos
novos, confesso que fiquei feliz com a decisão da diretoria em rejuvenescer os
velhos, ao invés de filiar gente nova! De repente o navio se fundeou na baía em
frente e, pelo adiantado da hora, toda aquela balbúrdia cessou. Reinantes o
silêncio e a escuridão acarretada pelo curto-circuito que provoquei, fui
dormir, mas não consegui me aferrar no sono, temendo um novo “Dia D”. Sonhos e
pesadelos pontearam os momentos de interrupção de minha vigília. Ora eu me via
escondendo deles, ora fugindo dali a nado, ora envergando o melhor dos ternos à
minha disposição e participando daquele décimo oitavo evento. Eu me via
empunhando a bandeira da nossa equiparação aos juízes, bem assim a percepção
das vantagens individuais há tempos subtraídas. Eu me via descobrindo a fórmula
do Elixir da Vida Eterna e com ela garantindo a não redução da arrecadação de
nossa contribuição associativa. Em nossas carteiras o antigo trânsito livre e o
porte de armas e todos os nossos precatórios imediatamente pagos. Mas logo o
pavor invadia sonhos tão bem acalentados e eu sonhava com a velha tina que tão
bem me albergou. Aí eu amaldiçoava o fato de ter batido os costados naquela
paradisíaca ilha, bem assim amaldiçoava a pessoa que ali me agasalhou,
privando-me do direito de morrer em paz. E a amaldiçoava mais ainda por não ter
me provido de meios de sair dali, antes da chegada daquela cambada, ou porque
não quis me levar. Eu sonhava vê-los distantes assim que o sol aparecesse
naquela manhã. Sonhava até que, caso o seu comandante não o fizesse, um
vendaval levasse aquele grande navio para o mais distante possível. Só não
sonhei com aquilo que verdadeiramente ocorreu assim que o novo dia começou. De
repente, não se sabe por que cargas d´água, o grande navio se pôs a afundar e
eu, observando tudo aquilo à distância, entrei em pânico, não obstante minhas
recaídas em renegar a minha antiga turma. Há tempos eu não falava com Deus, mas
a Ele imediatamente recorri, pedindo que fizesse o impossível para salvar
aquela turma. E Ele ouviu as minhas
preces, pois os escaleres se encheram dos passageiros e zarparam antes de o
navio inteiramente se submergir. Só que eu me esqueci de pedir-Lhe para que
outra direção aqueles escaleres tomassem e Ele, não alertado por mim, os fez
aportar justo na pequena ilha onde eu me encontrava. Ao ver aquela horda
atônita e desatinada descer daqueles batelões, a minha primeira reação foi
afundar a cara no travesseiro e fingir-me de morto até que eles partissem. Mas
de nada adiantou, pois refeitos daquele susto inicial, lá vinham em direção à
mansarda, tendo à frente aquela indefectível guia turística, berrando no
megafone da equipagem de salvamento. Não mais a havia visto desde o dia em que
o pirata-mor ficou com ela a troco de um imenso tesouro que me legou, mas horas
depois me foi surrupiado pelos seus próprios asseclas. E eu que até então
alimentava ganas de fugir, mudei de idéia ao vê-la, sobretudo visando
esclarecer melhor o que levou aquele pirata a se interessar por um bucho feito
ela. Vesti então o meu melhor terno, penteei-me elegantemente e fui para a
varanda da mansarda os recepcionar. Assim que se aproximaram, uma gritou:
Carmotinha, quequivocê tà fazendo aí? E todos exprimiam estupefações e
exclamações semelhantes. E aí, a mais bela de todas elas, a mais parceira e
colega, a que namorei e com quem me casei; enfim, a que não deixou a peteca da
entidade cair, tão logo eu a abandonei, exclamou: - <i>Toda essa surpresa só poderia ser feita por você meu amor!</i> E eu que
nem dono da ilha era; e eu que nem bem sabia dizer como fui parar ali; e eu que
não providenciei a aventura de afundar um navio e colocar em terra, a salvo,
todos os seus passageiros, de orgulho me enchi. Por três dias farreamos tanto
que, ao término do evento quase que me esqueci de perguntar à guia o que ela
havia armado com aquele velho pirata-mor. E ela me afirmou que tinha sido por
conta do tesouro. Mas eu redargüi que o tal tesouro havia sido em seguida
arrebatado de mim. E ela, retrucando que não, arrematou: - <b><i>foi por conta desse tesouro de
mulher que eu trouxe para ti que me entreguei a ele, comprei esta ilha e aqui
te alberguei até trazer a tua verdadeira loura para os braços de ti!<o:p></o:p></i></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Pos Gran Finale</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Não sei por que essa mania da humanidade de registrar seus
feitos. É claro que ela vem de longe, desde os tempos em que antepassados
nossos rabiscavam as paredes das cavernas. Eu nunca havia preocupado em fazer
isso, mas bastou a falta do que fazer e a disponibilidade de um computador e eu
acabei por incidir no péssimo hábito de escrever memórias. Melhor teria sido
que eu não as salvasse ou que o computador tivesse ido a pique quando do
curto-circuito por mim provocado. Mas certo é que cometi a imprudência de
escrevê-las e, sobretudo, deixá-las ali naquela cachola virtual, sem qualquer
senha criptográfica e, por conseguinte, presa fácil da bisbilhotice alheia. E
não deu outra, pois muitos colegas que eu supunha partícipes da homérica farra
de três dias estavam na verdade trancafiados no escritório da mansarda, fuçando
o computador e lendo tudo isto que nele escrevi. Como as escrevi para mim
mesmo, ou para ninguém, inclusive eu, não pus travas em meus pensamentos, nem
me acerquei de cuidados, típicos dos que escrevem memórias, como omitirem fatos
desabonadores de suas histórias ou estórias. É claro que, no meu caso, uma
tentativa de omiti-los acarretaria a absoluta inexistência de fatos a
registrar, pois cada frase escrita deveria ser imediatamente delatada, pela
simples razão de que nunca pratiquei um ato sequer que pudesse ser considerado
como inteiramente sintonizado com os bons costumes, com o ordenamento jurídico
ou com os preceitos religiosos em geral. Aliás, não sou solitário nisso, pois
julgo que a humanidade em seu todo age assim, não escapando nem mesmo aqueles
que ela elege como puros, castos e santos. Mas eu, ao contrário deles, sou um
pilantra assumido. E aqueles pilantras enrustidos e que não têm a coragem de
sair do armário, não só leram tudo o que escrevi, como passaram a me fazer
perguntas capciosas acerta da minha conduta moral, como também me crivaram de
questionamentos sobre pontos do texto que eles consideraram absurdos,
incoerentes e insuscetíveis de acontecer, naquela intensidade, com um ser
humano normal. Eu bem que poderia tê-los mandado para aquele lugar, não
respondendo as suas perguntas. Mas como assenti em retornar ao rebanho
classista, não ficava bem, justo naquele reencontro, cometer tal falta de
educação e coleguismo. Em princípio, tentei enrolá-los dizendo que aquilo tudo
não passava da mais rasteira literatice, eu que por aquele tempo enfiei a cara
nos livros e nos filmes, sobretudo os de minha predileção, como os westerns e
os de aventuras. Mas, apesar da minha proficiente lábia, a conversa não colou e
eles queriam por que queriam explicações e mais explicações, sobretudo no
tocante ao meu papel na beatificação, bem assim o encontro que eu tive com o mais
novo casal real deste Continente. Também parti para uma desculpa típica dos que
são pilhados em patifarias e quis os demonstrar que se encaixava em mim, feito
luva, o instituto da irresponsabilidade penal, mercê da minha visível condição
de louco. Mas, ainda que eles caíssem na minha lábia, eu mesmo me dei conta de
que não era aquela a melhor argumentação, pois ela fatalmente se voltaria
contra mim, enterrando de vez qualquer possibilidade de, por exemplo, eu ocupar
cargos, privado do juízo e da própria condição de gerir a minha pessoa. De
todos eles, a única pessoa que realmente tinha o direito de efetivamente me
tomar satisfações era a minha esposa, sobretudo por eu ter me deitado com
aquela loira de triste memória, além das dezenas que comi em minha curta, mas
exitosa fase empresarial. Ela, sim, detinha o sagrado direito de se zangar
comigo, de me bater e até manejar contra mim um pedido de divórcio, lastreado
em minhas próprias confissões! Acho até que ela, como costuma acontecer com
algumas mulheres em situação igual, poderia até me privar daquele complemento
que, certa feita, na praia, se elevou feito as palmeiras circundantes. Como foi
em sonho, eu, evidentemente, alegaria a atipicidade daquele inusitado
acontecimento. Mas ela nada alegou, nada reclamou, nada duvidou, enquanto eles,
estribados em tênues laços sindicalistas, se viram no direito liquido e certo
de me encher de reparos e observações. E é por isso que acabo por cometer mais
uma infração, das tantas cometidas na vida, que é escrever mais capítulos
depois de um Gran Finale. É óbvio que milita a meu favor o fato de eu não ser
um literato, o que, aliás, pode ser facilmente constatável a cada linha deste
meu sofrido texto. É óbvio que delitos literários não costumam levar pessoas
para a cadeia, senão pichadores pegos em flagrante escrevendo palavrões. Visto
por este ângulo, eu bem poderia não espichar ainda mais o assunto e, de roldão,
este próprio texto. Mas como eles querem e se julgam no direito de arrancar de
mim mais esclarecimentos, que preparem para ouvir... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Eu não minto!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Não sou budista, mas acredito em reencarnação, não como algo
sobrenatural, tampouco paranormal, mas como um atributo tão banal nos humanos
como falar, copular e palitar dentes. Também diferentemente do que pensam os
budistas, creio que a reencarnação não pressupõe necessariamente a existência
de um morto doador do espírito e de um vivente seu recebedor. A reencarnação de
minha crença, sobretudo de minha própria experiência se dá, tanto em corpos
distintos, como num mesmo corpo. No último caso – o mais comum – um mesmo corpo
humano pulsante pode perder o seu espírito, viver sem ele por algum ou por
muito tempo, como também receber outro, outros simultaneamente e até mesmo o
próprio que dele se despregou. Não são raros também casos em que o corpo perde
o seu habitual espírito e passa a ser habitado pelo espírito de um animal de
outra espécie, grande ou pequeno, rastejante, caminhante ou alado. É óbvio que
espíritos de amigos, colegas de trabalho, parentes, vizinhos, amantes, porcos,
galinhas, cachorros, gatos, pulgas, cavalos, bois, passarinhos, lhamas,
camelos, elefantes, cabras, ovelhas, piolhos, ácaros, vermes são os que mais se
alojam em corpos humanos dessa hipótese. Há casos também em que o espírito de um
objeto de estimação – uma boneca inflável, um automóvel ou uma mansão, por
exemplo – dependendo do apego do estimador, aloja em seu corpo e passa a o
governar. Nem todos, mas somente um percentual ínfimo da humanidade – onde me
incluo – consegue voltar para dentro de si e se inteirar da sequência exata de
espíritos pela qual passou, tanto no corpo presente, como em corpos
antecedentes. A maioria das encarnações costuma ser instantânea, mas muitas
duram lapsos de tempo de até décadas, como uma que me aconteceu ao receber o
espírito de Marylin Monroe. Eu, por aquele tempo, não tinha a expertise que
hoje tenho e, por conta de minha ignorância, fiquei em dúvida se eu havia
comido Marylin, o que gerou uma grande confusão em minha vida, culminada em meu
suicídio e na transladação de meu espírito, junto com o dela e vários outros de
menor importância, para este meu atual corpo. Os meus bilhões de leitores
certamente não entenderão o porquê de eu fazer este extenso preâmbulo e não
partir imediatamente para o desiderato do que me propus no fecho do capítulo
anterior, qual seja desmascarar todos aqueles que duvidam de minha história. Chegarei
lá! Mas antes devo elencar essas e outras considerações, imprescindíveis à
excelência dos argumentos que irei brandir em suas caras deslavadas e
deslambidas! Tive o privilégio de, por algum tempo, abrigar em meu corpo o
espírito de Einstein. Penso que ele poderia ter permanecido comigo por muito
tempo não fosse o de Isaac Newton que, não sei por que cargas d águas, deu de
alojar justo em mim. Aí a minha vida virou um inferno, pois os dois brigavam o
tempo todo sobre o movimento do tempo, enquanto a burralda de minha Marylin
interior não entendia bulhufas do que eles diziam. Como o espírito de uma
boneca inflável também se apoderara de mim por aquele mesmo tempo, Marylin o
estapeava, enquanto Albert e Isaac tentavam acalmá-la, chegando certa feita ao
extremo de acuá-la com o espírito de Charles, meu cachorro de estimação. Quase
que enlouqueci, mas, conhecedor desta peculiaridade da humanidade, eu soube
administrar toda aquela confusão sem necessitar de analistas, psicólogos,
psiquiatras e afins. Aliás, por falar neles confesso que rôo de vontade de um
dia receber o espírito de Freud e contar para ele as besteiras que eles cometem
em seu sacrossanto nome. Mas voltando à vaca fria dos espíritos, a própria
linguagem humana é uma prova do que ora falo, na medida em que o vocabulário de
cada um em particular nada mais é do que a soma de espíritos que foram alojando
paulatinamente em seus corpos: em primeiro lugar o espírito da mãe, depois o
espírito do cocô, o da fralda, o da chupeta até chegar ao espírito de todos
outros objetos que vão se incorporando ao longo da vida. Com todos esses
espíritos em um mesmo corpo é que surgem os verbos, os substantivos, os
artigos, os adjetivos, os numerais, os pronomes, os advérbios, as preposições,
as conjunções, as interjeições, as frases, as orações, os períodos, a
concordância, a regência, a crase, a pontuação e as figuras e vícios de
linguagem. Eles nada mais são do que o resultado da briga e do bafafá de
milhões de espíritos que costumam alojar num mesmo corpo. Isso resulta em que a linguagem, ao contrário
do que pensa a maioria, é o pior dos instrumentos nas relações interpessoais,
causadora de guerras, revoluções, brigas e confusões. E seu caráter deletério
deflui necessariamente da forma em que ela – linguagem – é adquirida por cada
falante, escrevente ou pensante: uma maçaroca de milhões de espíritos
verbalizando, adverbiando, substantivando, adjetivando, numerando,
preposicionando, conjugando, interjeitando, regendo, craseando e viciando, tudo
ao mesmo tempo! E já entrando no meu propósito de desmascarar meus abelhudos
colegas, digo que toda a incompreensão deles em relação ao que escrevi – e que leram
sem o meu consentimento – deriva justamente dessa algaravia dos espíritos que
cada um traz em si, de maneira inconsciente. Visto sob esse ângulo, melhor eu
não tentar me explicar, como me propus ao fim do capítulo anterior, pois com
certeza, quanto mais explicações, mais dúvidas, mais inquirições, mais
julgamentos, mais conclusões e mais confusões, enfim! Assim, ao invés de perder
tempo com isso, melhor mesmo é eu bolar um plano de afugentá-los o quanto antes
dessa minha confortável ilha...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O Plano<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Com a minha verdadeira loira no cantinho de minha cama, bolar
planos foi algo que sequer consegui astuciar na noite que passou. Mas assim que
o amanheceu, uma idéia lampejou em minha cabeça e eu saltei da cama pronto a
colocá-la em ação, mesmo antes das abluções matinais. Metido na minha longa e
alva camisola de dormir, transpus o imenso corredor, mas antes de chegar ao
pátio da mansão, um coro ecoava o meu nome, entremeado de Vivas a Deus e a
Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Minas Novas! Apressei então o
passo e do alto da escadaria vi os meus colegas em procissão, mas carregando um
andor literalmente vazio. Por instantes supus a ausência de imagem de santo ao
fato de que elas inexistiam na ilha. Mas, tão logo me viram no alto da escada,
gritaram: <i>Salve São Carlin! Salve São
Carlin!</i> e me jogaram sobre aquele enfeitado andor! Petrificado e
bestificado com todo aquele exagero, dei voltas e mais voltas em torno da ilha,
emperiquitado naquela prancha de madeira, cujos colegas se alternavam na sua
condução. A minha cabeça se esforçava em adivinhar o que fiz de tão prodigioso
para alcançar a santidade. Alcançar a santidade simplesmente em vida, coisa que
nem Jesus Cristo conseguiu e que o próprio Papa que ajudei canonizar teve que
esperar mais de ano! Pensei no adjutório que dei em tal canonização, ao revelar
o milagre que se deu comigo, completando a cota miraculatória que faltava! Mas
achei isso sem força suficiente para me galgar não apenas ao posto de santo,
mas do primeiro santo vivo da Santa Madre Igreja! Além do mais, eles próprios
que haviam acabado de me canonizar eram os mesmos que ontem duvidavam de tudo o
que escrevi no computador, inclusive da minha participação na canonização do
Papa! Pensei que eles, aos escutarem por toda noite nossos gritos de amor,
feito eu também recuperaram as suas perdidas tesões e, em razão disso, me
atribuíram aquele milagre. Louco para me apear daquela prancha enfeitada e
passar a limpo toda aquela confusão, eis que surge de uma das janelas a minha
verdadeira loira, toda vestida de anjo, inclusive com um radiante par de asas e
faz aumentar ainda mais a minha curiosidade e aflição. Aí pensei: <i>se ela que nunca falhou comigo está agindo
assim, eu de fato fiz por merecer a minha canonização</i>! Confesso que, pela
primeira vez na vida, desejei a minha morte, não por desespero, mas pela
perspectiva de imediatamente me mandar para as cortes celestiais e lá gozar de
meus privilégios e prerrogativas santificais, deixando aquela cambada ali na
ilha. Como a minha loira estava apta a voar, eu não ficaria sem ela e perfeito
restaria o plano que nem bolei! Então fechei os meus olhos e pedi que Deus me
levasse. Com os olhos inteiramente cerrados, notei que o andor de repente
deixou de dar voltas e passou a andar em linha reta. Em seguida, percebi que
ele foi posto em algo parecido com uma canoa. De olhos fechados notei que ela
se pôs a navegar rapidamente, enquanto um vento forte, misturado à areia,
impedia-me de abrir os olhos. Quando finalmente os consegui abrir, eu já não
via nem ilha, nem colegas, nem a minha Anja Loira! Prontamente conclui que em
lugar de eu urdir um plano para afugentá-los da ilha, eles, sim, é que bolaram
um e que resultou em meu desterro naquele andor flutuante. Dei uns bons gritos
de filhos da puta, mas a minha indignação se dirigiu imediatamente na direção
da minha Querida Loira. Como? Por quê? O que fiz? Não acredito! É um pesadelo!
Ela enlouqueceu! Será que em sonho bradei o nome de outra! Será que em gozo
gritei por Marylin? De repente parei de lamentar e, sem saber para que lado
ficara a ilha, me pus a dar voltas em torno do andor, olhos postos na linha de
mar circundante. De repente, ao longe, um pontinho branco apareceu e o meu
coração se alegrou: <i>É ela, com seu par de
asas, vindo ao meu encontro!</i> E o pontinho foi aos poucos se definindo,
sendo possível notar o seu bater de asas. Então fechei os olhos novamente,
elevando o meu gratíssimo pensamento aos Céus, certo de que em minutos a minha
Loira Alada pousaria em nosso barquinho-andor, para que juntos pudéssemos
navegar rumo a uma paradisíaca ilha naquele mediterrâneo mar, longe daquela
cambada de ingratos colegas! Logo, o arfar de asas finalmente alcançou os meus
ouvidos, mas antes de os meu olhos abrir, senti em minha careca a queda de uma
pelota pegajosa e fedorenta, pois uma gaivota simplesmente me cagou! Aí me desesperei novamente e me joguei rumo
ao fundo do mar. Desci, desci, mas o meu fôlego parecia se encompridar e eu não
conseguia me afogar. Vários minutos sem conseguir concretizar o intento de me
matar, submergi e alcancei a borda da canoa. Subi e quando me pus de pé, vi a
minha verdadeira loira se afastar, batendo com força as suas asas. Eu gritava
que eu não havia morrido, mas ela, de costas para mim e certamente desesperada,
não me ouvia e mais se afastava. Eu torcia para que ela olhasse para trás, mas
nada, e ela desapareceu na linha do mar.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">No Céu<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O peso da minha mágoa era tamanho que eu temia o barquinho
afundar. Mas o alívio por não ter sido traído pela minha Adorável Verdadeira
Loira compensava tudo e o barquinho singrava rapidamente o mar. Não era a
primeira vez que me via na condição de náufrago! Em todas as outras eu me safei
e não seria naquela que eu iria me estrepar. Mas as mágoas foram se dissipando
uma a uma, como que varridas pelo vento forte e eu, diferente dos naufrágios
anteriores sentia-me calmo e tranqüilo como jamais me senti em toda a minha
vida. Estirado de barriga para cima naquele estrado de madeira todo enfeitado,
eu cantarolava sobretudo trechos de óperas, como aquele em que Otelo e
Desdêmona cantam o seu amor numa noite na ilha de Chipre. Mozart punha em minha
boca Cosi Fan Tutte, mas eu me recusava a cantá-la, pois nem todas as mulheres
agem como ele pensa, e a minha Loira é a prova disso. Eu também recusava Bizet,
pois a minha Loira não é abusada como a cigana Carmen. De repente eu me
levantava, aprumava meu corpo equilibrado naquele andor e deixava que o vento
esvoaçasse a camisola de dormir em que eu estava vestido. E assim altivo, mas
calmo e tranqüilo eu singrava aquela imensidão de mar. Meus cabelos e minha
barba cresceram prodigiosamente, mas apesar da brisa salgada e do sol forte,
sentia-os lisos, sedosos e perfumados, não aquela cafuringa dos naufrágios
anteriores. Notava até que a minha pele ganhara viço e cor, mesmo eu estando
naquelas condições tão adversas e ainda por cima sem comer ou beber. Eu
simplesmente estava sendo poupado do flagelo de ter fome, além de inteiramente esvaziado
do estoque de raivas, ódios e ressentimentos que acumulei ao longo de minha destrambelhada
vida. Volta e meia, aves marinhas revoavam sobre o meu barquinho, desenhando
lindas coreografias no céu e cantando alegremente. Elas se alternavam pousando
doce e sossegadamente em meus ombros. Golfinhos e outros peixes, saltando ao
redor do barquinho, completavam aquele lindo quadro, enquanto os sons do mar
chegavam aos meus ouvidos como a mais delicada de todas as sinfonias. À noite
eles, peixes e pássaros, eram substituídos na coreografia pelo piscar alegre
das estrelas, pelo riso num canto da boca da lua e pelos milhares de meteoros
que riscavam o céu, desenhando palavras e frases me louvando e me glorificando.
Toda aquela desassombrada guinada em minha vida poderia ter me levado à
inexorável conclusão que de fato eu fizera por merecer aquela procissão. Tudo
sinalizava que de fato eu havia ascendido à condição de santo. Mas santos
sempre chegam a esta condição quando morrem e muitos anos, décadas e séculos
depois de morrerem! Nesse mesmo contexto, seria plausível que eu me pusesse a
refletir se eu, sobre aquela canoa, estava de fato vivo ou se eu já estava
morto. Plausível também seria supor que aquele mar circundante não era terreal,
mas celestial. E assim me supus, como que eu estivesse sido transladado pelo
Deus Mórmon para as plagas celestiais. Quando a procissão caminhou em linha
reta, ela não me lançou feito um traste que se joga ao mar? Em verdade, eu fui
arrebatado rumo aos céus, feito Maomé, ele embarcado numa carruagem de fogo e
eu num barquinho todo enfeitado? Mas eu nada supunha nem desejava. Tudo em mim
era quietude e mansidão. Tudo estava bom. Tudo estava ótimo e não havia espaço
para algo questionar. Vivo ou morto, pouco importava, certo é que eu jamais
experimentara uma paz interior tão completa e intensa. E assim, eu e o meu
barco, deslizávamos docemente por aquela imensidão de mar azul! Por todos
aqueles dias de navegação, não avistamos um palmo sequer de terra, mas certa
manhã avistei uma garrafa pet boiando por perto. No céu da maioria das
religiões um objeto dessa natureza é inteiramente incompatível, mas me lembrei
de que no dos Mórmons uma garrafa pet é plenamente suscetível de ser encontrada
em um mar celestial e, por isso, sosseguei. Mas, mais adiante, avistei outras
garrafas boiando, sacos plásticos, camisinhas, lataria de carro e lixos de
todas as espécies. Admiti num primeiro momento que o emporcalhamento de que foi
vítima a Terra acabou por contaminar o próprio céu. Navegando mais
sofregamente, por conta de tanto lixo batendo em sua proa, minha canoa seguiu
seu rumo e eu, aos poucos, fui dando conta de que estávamos próximo ao litoral,
pois centenas de torres de igreja (contei 365 pares delas) surgiam na linha do
horizonte. Aí pensei: com tantas igrejas, estamos chegando realmente ao Céu! Aí
me alegrei novamente. O barquinho continuou aproximando e eu me extasiando com
a chegada a uma baía linda, embora tomada pelo lixo. Mais perto, vi que a
cidade em sua orla estava em festa e, em razão disso, todas aquelas garrafas em
minha volta se justificavam. Aí eu me levantei sobre o enfeitado andor e,
vestido em minha longa camisola branca, ajeitei meus longos e sedosos cabelos,
enquanto o barquinho se aproximava da praia. Uma imensa multidão parecia me
esperar. Caminhões gigantescos, dotados de potentes amplificadores de som,
carregavam animados músicos. Apesar do nauseabundo cheiro de urina, eu me
regozijava com aquela apoteótica recepção e finalmente conclui que eu me
transformara em Jesus Cristo. Sim! Cristo havia se encarnado em mim. Somente eu
não havia me dado conta disso! Meus colegas, sim, tanto que me consagraram
naquela procissão. Minha mulher também, tanto que não quis me seguir, ciosa de
que não ficaria bem um Cristo casado, ela que não tem nenhuma vocação pra
Madalena. Os pássaros marinhos, os peixes e as constelações. E agora aquela
multidão que se espremia em todas as praias, na cidade baixa, na alta e até em
seu pelourinho, todos me tomando pelo Messias e somente eu sem me dar conta
disso! Finalmente o barro enterrou sua proa na areia e dele eu desci, certo de
que a multidão me arrebataria sobre o andor, conduzindo-me por aquelas ruas,
avenidas, terreiros e ladeiras em apoteótica procissão. Parado fiquei, pois
ninguém sequer se atreveu a me olhar, senão um vendedor de picolé que comigo
falou: - Que porra de fantasia irada, meu rei!, e uma vendedora de acarajé que
disse que o meu andor era mais enfeitado do que jegue na Lavagem do Bonfim! Só
então eu me dei conta de que havia chegado em Cu de Gato, justo naquela que foi
a sua primeira Capital! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Fingindo de bobo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Como me filiei ao partido do destino, isso muito antes de
minha santificação, achei por bem não me precipitar e tomar satisfações com
aquela gente que me ignorava. Tal qual sucedeu ao meu Antecessor, tudo aquilo
fazia parte de um plano traçado pelo nosso Pai. Aí eu próprio pus o andor em
minhas costas e comecei a andar pela cidade. Quase todos me ignoravam, exceto
uns, dentre eles um pastor e um padre, que protestavam contra aquilo que
imaginavam ser uma fantasia de carnaval. Cheguei a tentar me descansar sentado
na escadaria de uma grande igreja que levava o meu nome, mas o Cardeal
determinou que eu saísse dali. Procurei abrigo num templo evangélico, mas dele
fui enxotado, não só por não poder pagar o dízimo e as ofertas, mas sob o
argumento que eles não admitem que eu seja representado por imagens ou
figurações. Aí então eu apelei para o que eu sempre soube fazer e que inclusive
garantiu a minha fama dois mil anos atrás. Mas nem milagres que ali operei
fizeram com que eles enxergassem em mim o Enviado de Deus! Salvei um
sexagenário cantor de axé, com um pano amarrado na cabeça, segundos antes de
ele ser vitimado por um infarto fulminante. Consertei o gerador de um trio
elétrico no instante em que ele entrou em pane. Impedi um temporal que desabaria
sobre a cidade. Curei a rouquidão de uma cantora quase de bunda de fora, mas
nada disso foi notado por eles. Aí eu barbarizei e transformei em Canabis toda
a grama da cidade e retive por três dias o fluxo urinário de todos os homens, a
fim de que não mijassem nas ruas. Por último, operei o milagre da multiplicação
de cacetes, cacetinhos, varas e acarajés. O meu ego cugatense sabia que
carnaval dura três dias, mas que naquela cidade isso se multiplica por cem. Mas
o Meu Outro Ego imaginava que tudo se normalizaria três dias depois, relevando
e perdoando toda aquela festa mundana, mesmo porque ela entrou no calendário
cristão como forma de todos se esbaldarem nas vésperas da quaresma. Então me
acalmei e aguardei a ansiada quarta-feira de cinzas, certo de que eu seria
finalmente notado e finalmente seria entronizado naquele andor e carregado
efusivamente pelas ruas da cidade, do Estado, do País e de todo o mundo. Quarta-feira
finalmente chegou, mas o furdunço continuou mais intenso do que antes,
arrastando milhões de ensandecidos foliões pelas ruas, como que amarrados
feitos cachorros na traseira daqueles imensos e barulhentos caminhões. E assim
quinta, sexta, sábado... o mesmo turbilhão ensandecido me ignorando, me
enxotando, me ridicularizando, até que ergui meus olhos aos Céus e bradei: <i>Pai, afasta de mim este cálice!</i> Meu
grito foi ouvido pela banda que tocava sobre o Trio Elétrico e eles, na hora,
pediram que eu continuasse cantando aquele velho sucesso de autoria do Gil. Eu
não queria subir no Trio, mas a multidão me arrastou. Meu Eu Sagrado não queria
cantar, mas o eu profano fraquejou e não resistiu ao coro “Canta!”...
“Canta”... abriu o vozeirão e balançou a multidão. Cantei a noite toda em
vários trios, inclusive no Expresso 2222. Eu simplesmente me tornara a
revelação daquele Carnaval, mas algo de anormal abateu sobre mim, pois em pouco
tempo meus longos e sedosos cabelos voltaram ao desgrenhado de antes, inclusive
a minha velha careca, a minha pele perdeu o viço, meu semblante terno e doce se
modificou e a minha alva túnica, que se manteve por todo aquele tempo limpa e
passada, encardiu e se esmolambou. Aí a minha ficha caiu: Cristo simplesmente
me abandonou! E a galera, me vendo tão diferente do que instantes antes eu era
me fez descer do trio e quase que me linchou. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">É claro que eu estava amando ser o receptáculo do espírito de
Nosso Senhor. Quem não gostaria de ser a reencarnação Dele, ou de Buda ou de
qualquer um destes Seres Luminosos que passam pela Terra, de milênio em
milênio? Penso que fiz tudo certo, desde o momento em que Ele se alojou em mim.
Agi com ternura e doçura. Dei a minha outra face. Sofri resignadamente. Só
pensei e fiz coisas boas. Mesmo o fato de ter subido no Trio Elétrico, não o
fiz por vontade própria, mas sim obrigado. A bem verdade nem cantei, pois eu,
como todos que se apresentam ali, “cantava” em play back. Além do mais, Ele,
que tantos milagres é capaz de operar, bem que poderia ter me impedido de subir
no trio. Além do mais, em seu tempo no Oriente Médio Ele próprio andava em
companhia de mulheres de vida airada e animava festas transformando água em vinho.
Digo isso, para afirmar que Ele, ao me abandonar, foi injusto, contrariando
tudo que grande parte da humanidade pensa Dele. Já ia ruminando tais
pensamentos, quando uma hipótese faiscou em minha mente! Cristo, na verdade,
não fugiu de mim! Cristo fugiu, sim, daquela cidade louca, Cristo fugiu de Cu
de Gato, Cristo fugiu deste mundo sem conserto, enfim! Exonerado daquela
sacratíssima função, fiquei a andar pelas praias, ora batendo carteiras, ora
trançando tererês. Mas o meu maior sonho era juntar dinheiro e ir direto para
junto da minha Adorável e Verdadeira Loira. Nem precisei dinheiro juntar, pois
no dia de ontem, ao passar por uma sentada numa cadeirinha de praia, não
acreditei, mas era ela que estava ali!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Carlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-70399442788121611332012-08-17T11:54:00.001-07:002012-08-17T11:54:34.174-07:00Éramos assim!<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkxpZhYqKiFL17DDqc7h4mEMxK-p_g7-MRKQq1nuw2AKJTsiDAQILcmtYdUyJ7kzb0US-_RSIAn_FJVkLteMGPVI8VoJugf_uEx4kxwr0cE89EpgnX_vvswYeQjwmk9ENoSbbmCBlZXtUA/s1600/sinuca.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkxpZhYqKiFL17DDqc7h4mEMxK-p_g7-MRKQq1nuw2AKJTsiDAQILcmtYdUyJ7kzb0US-_RSIAn_FJVkLteMGPVI8VoJugf_uEx4kxwr0cE89EpgnX_vvswYeQjwmk9ENoSbbmCBlZXtUA/s320/sinuca.jpg" width="320" /></a></div><br />
Sinuca igual a da foto, não fizemos, quando meninos em Minas Novas! Mas tínhamos uma que era uma simples tábua com seis furos, as tabelas feitas de tiras de câmara de ar de pneu e um jogo de bolas de gude. Raríssimos os que possuíam bolas de futebol, por isso nos arranjávamos com bolas de meia, boleiras (fruto da lobeira) e até com uma que Bitenil fez de leite de mangaba. Todos os nossos brinquedos eram feitos por nós: carrinhos de direção e de cantadeira, feitos de madeira, aviões de papel e de piteira, petecas, espingardas de cano de bambu (estoque), cuja munição era jornal derretido a cuspe, aros de barril (chamados curiosamente de freio), estilingues, bodoques, flautas de bambu, canudo de mamoeiro ou de abóbora, coiós (papagaios ou pipas), manivelas de madeira ou de lata de sardinha para empiná-los, piões de madeira ou de cabeça (chamados de piorras ou zorras), papaventos (cataventos), avisos de coió, pernas de pau, aleluias (bolas de cera amarradas num barbante), jangadas de bambu ou piteira, zanguezalingues, zangaburrinha, lavanquinhas (finca), telefones de lata de massa de tomate, paraquedas de sacos plásticos e até uma caixa de enxadas em que Duí, a bordo dela, tentou levantar voo emperucado no muro do cemitério!<br />
As meninas faziam as suas próprias bonecas, de pano, cozinhavam em panelinhas de barro, bordavam e costuravam, brincavam de maré (amarelinha), pulavam corda, montavam presépios...<br />
Muitas brincadeiras não dependiam de nada além que o próprio corpo, como as correrias de euú ou de esconder, folhinha verde, tapavão, cantigas de roda, trela de cachorro, corriãozinho queimado, garupa ou cavalinho e raríssimos eram os que tinham brinquedos de loja, feito velocípede ou bicicleta. Não tínhamos tevê e, além dos nossos brinquedos artesanais, líamos livros de papel, um objeto quase em extinção.<br />
Vivíamos nas ruas, nos matos à cata de frutas, jogando bola nos largos e tomando banho, pescando ou bateando ouro em rio. Quando não estávamos na escola ou na igreja, a rua era o nosso local preferido, com muitos cavalos, burros, cachorros, mas raríssimos carros.<br />
A chegada da tevê e o seu violento poder de modificar hábitos e costumes instaurou a chamada sociedade de consumo, onde somente as coisas pagas têm graça, e acabou por relegar ao mais completo esquecimento, em menos de três décadas, aquele jeito infantil de ser, fruto de milhares de anos, inclusive do tempo em que vivíamos nas cavernas.<br />
A ruidosa Minas Novas de minha infância, com suas ruas, largos, matos e rios apinhados de crianças alegres, livres, leves e soltas, não existe mais. Elas, tal qual as das grandes cidades, se engaiolaram, olhos postos na tevê ou batucando seus dedinhos em teclas ou telas de tablets!<br />
Tomara que isso dê certo! Será?<br />
<div><br />
</div>Carlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-5788604233775860462012-08-17T06:15:00.001-07:002012-08-17T06:15:26.643-07:00Presente de Grego<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicbYb51l3nbPLC-bsk7iPE3KpsHvCugHVfjmEKWl68MSR5lmPesNEKjsgs01MmDOvNwp8gg19XSVQiFePTsEy9kxd9tYe1CyJRq0zFdOHfXmxXt4wWoThD6qn7NSZWf0mOOPAvDvR2Ovl_/s1600/Praca-2073+(1).jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="241" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicbYb51l3nbPLC-bsk7iPE3KpsHvCugHVfjmEKWl68MSR5lmPesNEKjsgs01MmDOvNwp8gg19XSVQiFePTsEy9kxd9tYe1CyJRq0zFdOHfXmxXt4wWoThD6qn7NSZWf0mOOPAvDvR2Ovl_/s320/Praca-2073+(1).jpg" width="320" /></a></div><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Coitado de Jesus! Além de ter morrido na cruz pra nos salvar, ele tem que aturar um monte de besteiras, inclusive o uso indevido de seu nome em vidros traseiros de carros. É um tal de “Presente de Jesus”, “Foi Jesus que me deu” e um bem manjado: “Propriedade de Jesus”. Se eu fosse Ele, ao voltar à Terra, daria uma passadinha aqui no Brasil, anotaria todas as placas, iria aos Detrans e transferiria todos esses carros pro seu santo nome. Aposto que nesse dia todos os espoliados pelo Cristo iriam crucificá-lo novamente, pedindo busca e apreensão de seus carros. Interessante que quase todos os carros com mensagens assim são verdadeiras latas velhas, como o da foto, que deveria passar por duplo conserto, inclusive o ortográfico. Dizer que essas forrecas são presentes dele é até pecado, pois elas não passam de PRESENTE DE GREGO! </div>Carlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-71595498288069390682012-08-15T12:07:00.001-07:002012-08-15T12:07:56.614-07:00Versos para pára-choque de caminhão<br />
<div class="MsoNormal">Versos para pintar para-choque de caminhão</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Carlos Mota</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Trafegar na estrada da vida</div><div class="MsoNormal">Não requer carta de motorista;</div><div class="MsoNormal">Estrada perigosa, comprida,</div><div class="MsoNormal">Com muitos buracos na pista.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Nem sempre se chega ao Sucesso:</div><div class="MsoNormal">Lugar que pouquíssimos conhecem,</div><div class="MsoNormal">Pois complicado é seu acesso</div><div class="MsoNormal">E os que lá vão sempre se perdem.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Há um trecho chamado Fracasso,</div><div class="MsoNormal">Uma curva de nome Penúria,</div><div class="MsoNormal">Uma subida chamada Cansaço</div><div class="MsoNormal">E, no fim dela, a tal de Lamúria.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Com muitos quebra-molas à frente,</div><div class="MsoNormal">Um deles chamado Família,</div><div class="MsoNormal">Um trevo apelidado Parente,</div><div class="MsoNormal">Mais Briga, Cizânia e Quizília.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Mas se você tiver um estepe</div><div class="MsoNormal">Denominado “Determinação”,</div><div class="MsoNormal">Podes seguir bem serelepe,</div><div class="MsoNormal">Mais rápido do que um avião.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Mas se não for denominado “Fé”</div><div class="MsoNormal">O motor deste seu caminhão,</div><div class="MsoNormal">Nele engate uma marcha a ré</div><div class="MsoNormal">E não siga adiante, não...</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Ao bom Deus entregue o volante,</div><div class="MsoNormal">Pois só Ele pode cuidar do resto.</div><div class="MsoNormal">Só assim chegarás num instante</div><div class="MsoNormal">À cidade chamada “Sucesso”!</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Mas em chegando àquela cidade</div><div class="MsoNormal">Não se estufe, nem seja néscio,</div><div class="MsoNormal">Nunca perca a simplicidade,</div><div class="MsoNormal">Pois Deus pode entrar em recesso!</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">[Rimas sobre um texto que li num e-mail que recebi da pianista Lily de Roure]</div>Carlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-1686769983026428192012-08-11T13:08:00.001-07:002012-08-11T13:08:30.900-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZQz3o82uSNuSF1Z2ml9kajACQVVEzSWO7eVb5p9-p5A-Prdon2kttXaqcsOe5cp6YEJq8EFMuz13lsIjeeCTatfPxTyDrsKWzPq7psVC-JCS6ebROUDZngKwKTZVxXLzo3cJPUAHEjlpM/s1600/Padre+Emiliano+no+Cara%C3%A7a+-+1907.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="239" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZQz3o82uSNuSF1Z2ml9kajACQVVEzSWO7eVb5p9-p5A-Prdon2kttXaqcsOe5cp6YEJq8EFMuz13lsIjeeCTatfPxTyDrsKWzPq7psVC-JCS6ebROUDZngKwKTZVxXLzo3cJPUAHEjlpM/s320/Padre+Emiliano+no+Cara%C3%A7a+-+1907.jpg" width="320" /></a></div><br />
<br />
PADRE EMILIANO NO CARAÇA - 1907<br />
<br />
<br />
<br />
Hoje, ao garimpar na grande rede algo a respeito de Minas Novas, dei com as fuças numa preciosidade. O Livro de Matrícula do Santuário do Caraça, do ano de 1907, onde encontrei o seminarista EMILIANO GOMES PEREIRA, o nosso Padre Emiliano, bem assim a foto acima colada, onde é possível distinguir dois seminaristas com feições afro. Um deles, sentado no degrau inferior direito, no ponto em que ele se encontra com o esquerdo, poderia ser o jovem Emiliano. Mas, Emiliano, nascido em 1891, tinha dezessete anos quando a foto foi tirada, enquanto o do primeiro degrau aparenta ser um meninote de cerca de dez anos. Creio, portanto, que Emiliano é o sexto (da esquerda para a direita) seminarista, da primeira fila dos que estão de pé. Ele está ao lado do religioso do centro da foto. Como conheci o padre e, seu aluno, com ele tive contato próximo, os traços coincidem com os deles, exceto obviamente os cabelos. Viva o Padre Emiliano!<br />
<div><br />
</div>Carlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-32308899846966523042012-08-10T16:49:00.001-07:002012-08-10T16:49:25.859-07:00Tédio<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 16.5px;">TÉDIO</div><div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 16.5px;">*Carlos Mota</div><div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 16.5px;">En-jo-ei daquele maldito analista. Vivo uma vidinha insossa, mas ele quer por que quer me provar que eu sou o mais feliz dos homens, só porque tenho este iate de 267 pés, um tamanho descomunal que me faz perder a cada instante em seus decks. Além do mais, casas em Mônaco Ibiza e os malditos apartamentos em Paris e Nova Iorque só me trazem um desejo enorme de me refugiar em minha ilha em Bali e de lá nunca mais sair. Mas, ainda assim ele pensa que sou um boa vida, sem levar em conta que o CEO de minhas empresas me faz perder, a cada mês, longos e entediantes quinze minutos, resumindo para mim calhamaços de relatórios, enquanto meu maitre, a meu lado, quer que eu engula caviar, empurrado goela abaixo por uma taça de Moet Chandon. Meses atrás entrei no ramo do petróleo e, num único dia, com a empresa ainda no papel, vendi quinze bilhões em debêntures. Quando lhe contei, o abusado me considerou um sortudo, mesmo eu provando que fiz um péssimo negócio, pois agora o CEO vai querer me surrupiar, mensalmente, mais alguns minutos. E, para agravar ainda mais a minha depressão, não posso contar com os amigos que tenho, que bem podiam me ajudar. A única coisa que eles fazem por mim – e nisso tenho que lhes ser grato – é a imprescindível ajuda que me dão transando com as minhas amantes. Mas até nisso eles estão ficando relapsos, pois bem aqui sobre esta majestosa cabine, três se refestelam no deck da piscina, loucas para surrupiar as minhas energias, aumentando ainda mais os argumentos do malsinado analista, que insiste em me ter como um bom vivant. Acho que vou prestar concurso de procurador e pular fora desse raio de vidinha!</div>Carlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-45003462614805403672012-08-10T13:41:00.001-07:002012-08-10T13:41:47.555-07:00<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Até relógio com os ponteiros parados consegue marcar a hora certa duas vezes ao dia!<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Aprendi a ler e escrever antes de, aos sete anos, entrar para a escola. Como passava boa parte do dia na loja do meu pai, onde costumava ficar os livros de seu cartório, as etiquetas, estampas ou marcas das mercadorias, bem assim as peças processuais foram as minhas primeiras cartilhas, onde eu, curioso, perguntava aos meus pais e irmãos o que aquelas sequências de letras significavam. Como éramos também assinantes de jornal, bem cedo eu já conseguia entender as notícias que eles levavam àquele pontinho esquecido do Planeta: Minas Novas, onde nasci.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Sempre adorei escrever. Na escola primária tive duas excelentes professoras de Português: a minha tia Elisinha e a minha irmã Sãozinha, que me ensinaram a não só curtir a magia dos contos, das poesias, dos livros enfim, como também a me aventurar no mundo da escrita. Como ambas se preocupavam muito mais com a arte de bem ler e de bem escrever, suas aulas não se resumiam à monotonia de estudar aspectos morfológicos da língua. Por esta razão, embora razoável leitor e escritor, não me saí bem nos dois primeiros anos de Ginásio, pois o meu Tio Raimundinho, conhecedor profundo do Português, privilegiava mais os aspectos estruturantes de nossa língua, chegando ao cúmulo de querer incutir em nossas cabeças as cinquenta e três funções do que. Isso foi muito bom, pois, não fosse ele, eu não saberia distinguir um verbo de um adjetivo. Já nos dois últimos anos de Ginásio fui aluno de Português do Guerrilheiro Merival Araújo (um dos mortos pela ditadura), que preenchia as nossas aulas com leituras, sobretudo de obras revolucionárias, bem assim da excelente Professora Magdala Camargos, que se preocupava em nos ensinar ambos os vieses da língua: o prático ou funcional, e o formal. Também no Colégio Diamantinense tive um excelente professor de Português, Zé Arnaldo, que também nos lançou fundo na literatura.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Mas confesso que, ao ler ou escrever, nem me passa pela cabeça que isso é um verbo, aquilo é um pronome ou aquiloutro é uma oração coordenada assindética. Eu simplesmente vou vertendo para o papel ou para a memória do computador as coisas que vão brotando de minha cabeça. Detesto consultar fontes outras que não a minha memória. Por isso, quase não perco tempo, quando escrevo, folheando livros ou outras publicações. Quando acho que o que está alojado em mim não é o suficiente, simplesmente me nego a escrever sobre o assunto, ou mergulho em leituras sobre o tema a que me propus, para então voltar à escrita, quando volto. Obviamente, o texto ficar melhor quando você manja do assunto. Daí uma dica: escreva sobre coisas que você conhece. De preferência, sobre aquilo que você gosta, não importando o que! Se a sua praia é futebol, escreva uma crônica sobre o Esperança Futebol Clube ou o Giminesc de Minas Novas; se de música, faça uma biografia do Mark Gladston, pois ele merece; se de história, experimente entrevistar pessoas como Álvaro Freire e tantas outras que podem contribuir para o resgate da memória de nossa cidade.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Em outras palavras, sou como um motorista que dirige razoavelmente bem, mas que não sabe nada sobre o funcionamento do carro, pois sequer consegue distinguir câmbio de motor. A maioria dos motoristas é assim! Exceção de que me lembro, só o casal de mecânicos de Minas Novas, Seu Vito e Maria de Suvela de Seu Vito, experts nos consertos, mas que jamais guiaram um automóvel ou caminhão, visto que não sabiam dirigir.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A não ser que você queira ser professor da matéria, é bem melhor consumir a maior parte de seu tempo lendo. Quando mais você ler textos bem escritos, mais chances você terá de se tornar um bom escritor. Mas leia de verdade! De nada adianta ficar passando os olhos nas linhas escritas, mas com o pensamento vagando no outro lado do Fanado. Se não entendeu, volte e leia novamente. Se o assunto insistir em não entrar em sua cabeça, o texto provavelmente é ininteligível ou você ainda não está apto a degluti-lo de vez. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Considero bons escritores aqueles que não usam e abusam de construções literárias mirabolantes, bem assim não gostam de aparecer com vocábulos pouco ou quase nada conhecidos da média dos leitores. Experimente, por exemplo, ler o atualíssimo Machado de Assis, Lima Barreto, o Padre Antônio Vieira, Darcy Ribeiro, Otto Lara Resende... Não leve isso, todavia, ao extremo, pois é bom ler outros tão bons, embora pouco ou nada fáceis de serem lidos. Jornais e revistas? Eles já tiveram bons redatores, como Drummond, Rubem Braga, Nelson Rodrigues, Otto. Desse time, resta Murilo Mello Filho, Mino Carta e acho que mais ninguém. É que os seus manuais de redação pasteurizaram e homogeneizaram tanto seus textos, que eles perderam a identidade, ficando todos bem parecidos, feito mulheres e homens que abusam das cirurgias plásticas. Blogues e outras publicações da Internet? A maioria quase esmagadora não irá acrescentar a você quase nada. Pelo contrário, pode piorar o seu texto. Mas em meio a esse lixão virtual é possível achar coisa boa, sobretudo pessoas que não se acham na camisa de força dos jornalões e das revistonas, como é o caso do meu irmão e escritor, Lalau Mota, do Banu e do Bernardo Vieira, em seus respectivos blogues.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Não tente escrever mais rápido do que suas pernas (ou melhor, seu cérebro, olhos e dedos) aguentam. É como um tricô, onde cada ponto ou laço dado tem que sair perfeito, sob pena de você ter que voltar e desmanchar o que foi feito. Experimente, a cada linha, a cada frase, cada oração ou parágrafo, dar uma paradinha e ver o que foi feito. Vá consertando por etapas. Se você prefere escrever à mão, capriche na letra, pois isso impõe um ritmo cadenciado à sua escrita. Além do mais, o escrever cadenciado facilita a colocação natural de vírgulas, ponto e vírgulas e pontos, bem assim a disposição dos parágrafos. Tenha um dicionário ao lado e não tenha preguiça de consultá-lo se a mais tênue dúvida surgir em sua cabeça. Os corretores gramaticais dos computadores ajudam sim. Mas tenha cuidado com eles, pois nem sempre acertam. Se você conhece alguém que escreve melhor do que você, não tenha vergonha de clamar por ajuda. Uma boa dica é transcrever num buscador do tipo Google a frase que você ficou em dúvida. Na maioria das vezes, uma igual ou parecida surge na tela de seu computador. Veja a sua procedência e vá em frente! Outra dica: abandone a frase e escreva outra (quem não sabe escrever “seis”, melhor preencher dois cheques de “três”)! </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Não se preocupe! Até os melhores escritores erram. A vantagem deles é que seus erros costumam virar acertos. Se passado um pente fino neste texto, com certeza algo de errado será achado e eu terei que engolir que errei!</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Mas, digamos que você não queira se dar ao trabalho de aprimorar os seus textos. Não se preocupe, ligue o foda-se, apague este texto e manda o seu autor à merda (ou para a merda, o que dá no mesmo!), e vai ser feliz, escrevendo do jeito que você sabe escrever! Afinal, Chacrinha dizia: <i>Quem não se comunica, se trumbica! <o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Por fim e finalmente finalizando: mesmo um relógio quebrado e, obviamente, com os ponteiros parados; mesmo assim ele marca a hora certa duas vezes ao dia! Do mesmo modo, mesmo que você escreva tudo errado, sua chance de acerto não é absolutamente nula!</div>Carlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-65972004954394304582012-08-10T07:00:00.001-07:002012-08-10T07:00:45.916-07:00Cordel da Pensão Mineira<div class="WordSection1"> <div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><br />
</div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b><span style="font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">CORDEL DA PENSÃO MINEIRA<o:p></o:p></span></b></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b><span style="font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">CarlosMota<o:p></o:p></span></b></div></div><span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><br clear="all" style="mso-break-type: section-break; page-break-before: auto;" /> </span> <div class="WordSection2"> <div class="MsoNormal">O teto, uma peneira;</div><div class="MsoNormal">O chão cheio de ratos:</div><div class="MsoNormal">Era a Pensão Mineira</div><div class="MsoNormal">E os seus pobres quartos.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Erguida numa avenida,</div><div class="MsoNormal">Contorno-Belorizonte,</div><div class="MsoNormal">Na Floresta desflorida,</div><div class="MsoNormal">Pegadinha numa ponte.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Perto passava o trem</div><div class="MsoNormal">Espantando os mendigos,</div><div class="MsoNormal">Feito nós, sem um vintém,</div><div class="MsoNormal">Como nós, todos fudidos!</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Dona Ana, sua dona,</div><div class="MsoNormal">Já passada dos oitenta,</div><div class="MsoNormal">Ora doce, ora mandona,</div><div class="MsoNormal">De nós, era a sargenta!</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Com a cabeça cinzenta</div><div class="MsoNormal">E seus passos vacilantes,</div><div class="MsoNormal">Ela sempre estava atenta</div><div class="MsoNormal">Ao bando de meliantes.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Geraldo Barbudo, boiola</div><div class="MsoNormal">E um outro Geraldo também</div><div class="MsoNormal">Disputando um gabola</div><div class="MsoNormal">Chamado Dedé de Zalém.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Espiando pela greta</div><div class="MsoNormal">Eles babando na fronha,</div><div class="MsoNormal">O Múcio Bizorreta </div><div class="MsoNormal">Castigava uma bronha.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">E o levado da breca,</div><div class="MsoNormal">Dom Lalado de Caju,</div><div class="MsoNormal">Bolindo com Taco de Zeca</div><div class="MsoNormal">E com o Preto de Jacu.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Taco, chamado A Quarta,</div><div class="MsoNormal">Com o bucho vazio e oco,</div><div class="MsoNormal">Ao pai mandando carta</div><div class="MsoNormal">Pedindo broa e biscoito.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Passando cobre nos cobres,</div><div class="MsoNormal">Esvaziando a algibeira,</div><div class="MsoNormal">Ora milionário, ora pobre,</div><div class="MsoNormal">Pra tristeza dos Ferreira.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">E o meu compadre Preto</div><div class="MsoNormal">Batendo no liquidificador</div><div class="MsoNormal">Cachaça com carbureto,</div><div class="MsoNormal">Amendoim em um coador</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Preto pirou a cabeça</div><div class="MsoNormal">E amarrado ao cobertor,</div><div class="MsoNormal">Do teto arrancou a terça</div><div class="MsoNormal">Feito um touro voador.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">E um churrasco preparou</div><div class="MsoNormal">Pondo fogo em guarda-roupa:</div><div class="MsoNormal">A carne ficou um horror</div><div class="MsoNormal">E sua cabeça mais louca.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Só comeu o Carlos Cholô</div><div class="MsoNormal">Aquela péssima comida</div><div class="MsoNormal">E numa cama se estirou,</div><div class="MsoNormal">Sem pagar pela dormida.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Cholô era ali um penetra:</div><div class="MsoNormal">Toda noite o muro pulava,</div><div class="MsoNormal">Malandro, jogando letra,</div><div class="MsoNormal">Manhãzinha se mandava.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">O Manezin de Candinha,</div><div class="MsoNormal">Nosso Mané Requeijão,</div><div class="MsoNormal">Quis comer a Naiinha</div><div class="MsoNormal">Bem no canto do fogão.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Mas quando Naiinha topou</div><div class="MsoNormal">Com Manezin se deitar,</div><div class="MsoNormal">Ele viu um disco voador</div><div class="MsoNormal">E Adão Leite nele a voar!</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Viu Zé Teles subir ao céu</div><div class="MsoNormal">Com grandes asas de anjo,</div><div class="MsoNormal">Seguido por Beleléu</div><div class="MsoNormal">E Dotô Gustim no banjo.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Mucio roubou de Fernando</div><div class="MsoNormal">Único par de meias Lupo...</div><div class="MsoNormal">Fernando mei torto andando:</div><div class="MsoNormal"><i>Devolve minha meia seu puto!<o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Depois, de Fernando roubou</div><div class="MsoNormal">Quitandas de um caixetório</div><div class="MsoNormal">E Laca Badaró ele culpou</div><div class="MsoNormal">Desatando um falatório.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Fernando, puto com Laca,</div><div class="MsoNormal">Quase lhe deu uma tijolada,</div><div class="MsoNormal">Disse que pegaria uma faca</div><div class="MsoNormal">Por conta da palhaçada.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Calçando um alto tamanco,</div><div class="MsoNormal">De tanga andava o Cuão,</div><div class="MsoNormal">Pra tristeza e espanto</div><div class="MsoNormal">Do pobre Zé de Tristão.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Só porque tinha um gravador,</div><div class="MsoNormal">“Consola Corno” seu nome,</div><div class="MsoNormal">Tião se achava o maior</div><div class="MsoNormal">E nós uns morto de fome.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Pro Pau Bosta foi Tião </div><div class="MsoNormal">Levando o tal gravador,</div><div class="MsoNormal">Pra a boate do irmão</div><div class="MsoNormal">Animar o forrobodó</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Ocorre que antes da ida</div><div class="MsoNormal">Na fita foi gravado um trecho:</div><div class="MsoNormal"><i>- Gente do Pau Bosta, fudida<o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal"><i>Parem logo o remelexo!<o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Ao ouvir o xingamento,</div><div class="MsoNormal">Falado no meio da música,</div><div class="MsoNormal">Xingaram Tião de jumento</div><div class="MsoNormal">E puxaram a sua peruca!</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Consola corno foi quebrado</div><div class="MsoNormal">Antes de paga as prestação</div><div class="MsoNormal">E Tião foi escorraçado</div><div class="MsoNormal">E quase quebrou a Pensão.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Zé de Tristão, seu sobrinho,</div><div class="MsoNormal">Num sapato de três andar,</div><div class="MsoNormal">Ao dançar “Brasileirinho”</div><div class="MsoNormal">Fez o palco afundar.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">No Chico Nunes foi o show,</div><div class="MsoNormal">Show dos Novos Baianos,</div><div class="MsoNormal">Em que o palco arriou,</div><div class="MsoNormal">Quando Zé tava sambando.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Zé então foi soterrado</div><div class="MsoNormal">Com todos Novos Baianos,</div><div class="MsoNormal">O sapato foi arrancado</div><div class="MsoNormal">E Zé se salvou mancando.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">E foi mancando de um pé</div><div class="MsoNormal">Que ele cruzou o viaduto,</div><div class="MsoNormal">Quando Carlos virou pro Zé</div><div class="MsoNormal">E o Zé retrucou bem puto:</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><i>Não jogo este pé fora,<o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal"><i>Isso eu não faço, não,<o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal"><i>Pois só paguei até agora<o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal"><i>A primeira prestação.<o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Enquanto vivi na Pensão,</div><div class="MsoNormal">Meu Grande Amigo Zé,</div><div class="MsoNormal">Com carinho e estimação</div><div class="MsoNormal">Do par, guardou um pé.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Era tempo da ditadura,</div><div class="MsoNormal">Dos fardados tínhamos medo...</div><div class="MsoNormal">Uma noite levamos uma dura,</div><div class="MsoNormal">Ao vasculharem nosso beco.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Fomos derrubados das camas,</div><div class="MsoNormal">Ficamos deitados no chão,</div><div class="MsoNormal">Por conta de uns sacanas</div><div class="MsoNormal">Que se hospedaram na Pensão.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Um dia, o gagá Geraldo,</div><div class="MsoNormal">Que não suportava a gente</div><div class="MsoNormal">Encaminhou pro Fanado,</div><div class="MsoNormal">Carta sem o remetente.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Ao Padre a carta chegou</div><div class="MsoNormal">Chamando-nos de maconheiros.</div><div class="MsoNormal">Minas Novas se alvoroçou...</div><div class="MsoNormal">Nossos pais em desespero.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Muitos deles foram ver</div><div class="MsoNormal">O que fazíamos em Beagá</div><div class="MsoNormal">E puderam esclarecer</div><div class="MsoNormal">As mentiras do gagá.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Sei lá, se posso revelar</div><div class="MsoNormal">Uma paixão que tive ali:</div><div class="MsoNormal">Uma moradora do lugar,</div><div class="MsoNormal">Linda, igual nunca vi!</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Seus olhos dissimulados,</div><div class="MsoNormal">O rosto de uma princesa</div><div class="MsoNormal">Comigo quis ver o Fanado</div><div class="MsoNormal">Pra conhecer sua beleza</div><div class="MsoNormal"><o:p> </o:p> </div><div class="MsoNormal">Cabelos cor dum Tiziu,</div><div class="MsoNormal">Pele feito u´a porcelana...</div><div class="MsoNormal">Ela comigo só não fugiu</div><div class="MsoNormal">Porque nos faltava grana!</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Porém, nunca me esqueço </div><div class="MsoNormal">De quando a vi no tanque</div><div class="MsoNormal">Quase que me caiu o queixo</div><div class="MsoNormal">Ao fitar-me tão radiante!</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Na hora, feito quebrante,</div><div class="MsoNormal">Ela se enleou em mim</div><div class="MsoNormal">E eu senti naquele instante</div><div class="MsoNormal">Nos braços dum querubim</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Mas no pátio o Filismino,</div><div class="MsoNormal">Por ter quebrado o dente,</div><div class="MsoNormal">Ao invés de pôr um pino</div><div class="MsoNormal">Usou araldite quente.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Filismino era demente,</div><div class="MsoNormal">C´um rádio em cada orelha:</div><div class="MsoNormal">Um no sermão dum crente,</div><div class="MsoNormal">Outro em Moraes Moreira!</div><div class="MsoNormal"><o:p> </o:p> </div><div class="MsoNormal">Trovejando o vozeirão,</div><div class="MsoNormal">Batendo de casa em casa,</div><div class="MsoNormal">Era o Deca Bizorrão</div><div class="MsoNormal">E as contas da Copasa.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Com fome e muito cansado,</div><div class="MsoNormal">Ele não aguentou o rojão</div><div class="MsoNormal">E as contas foram achadas,</div><div class="MsoNormal">Mucambadas em seu colchão.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">A fome era tamanha,</div><div class="MsoNormal">Que nas tripas dava nó.</div><div class="MsoNormal">Mas existia uma manha</div><div class="MsoNormal">De visitar o Cororó.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Cororó era o Pedrinho,</div><div class="MsoNormal">Garçom lá da CDI</div><div class="MsoNormal">Que na hora do cafezinho</div><div class="MsoNormal">Saciava os que iam ali.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"> A mais rica, Dona Regina,</div><div class="MsoNormal">Moradora da Pensão,</div><div class="MsoNormal">Esmoler em uma esquina,</div><div class="MsoNormal">Fornecia o nosso pão.</div><div class="MsoNormal"><o:p> </o:p> </div><div class="MsoNormal">Lá apenas dormíamos,</div><div class="MsoNormal">Pois não se servia refeição,</div><div class="MsoNormal">Nem sei como vivíamos</div><div class="MsoNormal">Comendo apenas o pão.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Alguns se davam ao luxo</div><div class="MsoNormal">De frequentar lanchonete</div><div class="MsoNormal">E lá encher o bucho</div><div class="MsoNormal">De coxinha ou espaguete.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Um tal Domingos Melete</div><div class="MsoNormal">Nascido no Jenipapo</div><div class="MsoNormal">Tirou o “o” da omelete</div><div class="MsoNormal">Antes de enfiá-la no papo.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Por conta da supressão</div><div class="MsoNormal">Daquele “o” de omelete</div><div class="MsoNormal">Meu amigo Domingão</div><div class="MsoNormal">Virou Domingos Melete!</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Certa feita, o Fernando</div><div class="MsoNormal">Foi morar com Odilon,</div><div class="MsoNormal">Mas por causa dum molambo</div><div class="MsoNormal">Os dois perderam o tom.</div><div class="MsoNormal"><o:p> </o:p> </div><div class="MsoNormal">Embora no sério brigados</div><div class="MsoNormal">E a vida deles num triz</div><div class="MsoNormal">Resolveram dividir o quarto</div><div class="MsoNormal">Com um risco feito a giz.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Ao lado deles morava</div><div class="MsoNormal">O hoje Padre Badaró,</div><div class="MsoNormal">Que por conta da cambada</div><div class="MsoNormal">Se mandou pra Jericó!</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Tudo por conta dum gambá</div><div class="MsoNormal">Que ninguém viu no local</div><div class="MsoNormal">Quando Odilon e Cacá</div><div class="MsoNormal">Se evadiram do quintal.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">O Dé de Chico Rocha,</div><div class="MsoNormal">Tinha um vizinho de frente,</div><div class="MsoNormal">Típico chato de galocha</div><div class="MsoNormal">Que vivia gozando a gente</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Só porque trabalhava</div><div class="MsoNormal">Numa famosa construtora</div><div class="MsoNormal">O Rossini se achava</div><div class="MsoNormal">Imperador daquela porra.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Numa outra estalagem</div><div class="MsoNormal">Um bêbado tarde chegava</div><div class="MsoNormal">Mas por ter perdido a chave</div><div class="MsoNormal">A porta o louco quebrava</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Seu Juca, da Dona irmão,</div><div class="MsoNormal">No outro dia a consertava</div><div class="MsoNormal">Mas, à noite, o beberrão</div><div class="MsoNormal">Novamente a estragava.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Com calos e muita frieira</div><div class="MsoNormal">Parecia em ovos pisar</div><div class="MsoNormal">Manso que nem Zé Vieira</div><div class="MsoNormal">Feito um gato a andar.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">É que aquele bando de éguas</div><div class="MsoNormal">Por não ter nenhum tostão</div><div class="MsoNormal">Cruzava Beagá há léguas</div><div class="MsoNormal">Caminhando no dedão.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Todos aqueles fudidos</div><div class="MsoNormal">Que moraram na Pensão</div><div class="MsoNormal">Hoje todos bem sucedidos</div><div class="MsoNormal">Cada qual em sua função.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">De bancário a vigário,</div><div class="MsoNormal">De taxista a procurador</div><div class="MsoNormal">Empresário e funcionário</div><div class="MsoNormal">Radialista a Contador...</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Nada disso é lorota</div><div class="MsoNormal">O que conto nestas trovas</div><div class="MsoNormal">Pois mermão Felipe Mota</div><div class="MsoNormal">Foi Prefeito de Minas Novas!</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Tivéssemos nós morado</div><div class="MsoNormal">Numa majestosa mansão</div><div class="MsoNormal">Não teríamos trilhado</div><div class="MsoNormal">O caminho da retidão.</div></div><span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><br clear="all" style="mso-break-type: section-break; page-break-before: auto;" /> </span> <div class="WordSection3"> <div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b>Ali aprendemos a viver<o:p></o:p></b></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b>Sem luxo ou ostentação;<o:p></o:p></b></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b>Que ser é melhor do que ter<o:p></o:p></b></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b>E que todos somos irmãos.<o:p></o:p></b></div></div><span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><br clear="all" style="mso-break-type: section-break; page-break-before: auto;" /> </span> <div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><br />
</div>Carlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-69161144252572882502012-08-08T15:57:00.001-07:002012-08-08T15:57:11.674-07:00Os dois barbudos<div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><o:p> </o:p><img height="403" src="file:///C:/DOCUME~1/ADMINI~1/CONFIG~1/Temp/msohtmlclip1/01/clip_image001.jpg" v:shapes="Imagem_x0020_1" width="403" /></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Dois barbudos<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Os barbudos nesta foto,<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Quer fazer uma aposta?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Um é Lula, eu aposto;<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">E o outro, Felipe Mota!<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">O retrato foi tirado,<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Numa visita de Lula<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">À Cidade do Fanado,<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Pouco após a ditadura<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Colegas não só na barba,<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Também na competência<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Ambos com força e garra,<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Pra fazer a diferença!<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Um, um nordestino retado,<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Cantado em versos e prosas;<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Outro, um fanadeiro talhado<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Pra governar Minas Novas!<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Como ambos governaram<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Combatendo a pobreza<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Eles devem voltar, é claro,<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Disso eu tenho a certeza!<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Ficando na oposição<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Nos oito anos de Lula<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Minas Novas sofreu o pão<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">E empacou feito mula<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Com Felipe na Prefeitura<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Doutor Magton na vice<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">No Planalto, Dilma e Lula,<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Não elegê-los é burrice!<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Somente um cabeça dura,<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Sujo que nem o Boncesso,<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Troca voto por dentadura,<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Impedindo o progresso!<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Se não queres retrocesso<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">E sim avançar de vez<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">Vote amigo, eu lhe peço,<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;">No número quarenta e três!<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><br />
</div>Carlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-62338661428560768552012-08-08T06:57:00.001-07:002012-08-08T06:57:23.310-07:00Falei e corri!<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">VIVA O JEQUITINHONHA!</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Sou, antes de tudo, um JEQUITINHONHEIRO, mais do que mineiro, e, portanto, me sinto à vontade para falar mal de Minas Gerais. E já que paulistas, cariocas e naturais de outros estados brasileiros não ousam falar, por conta do maldito politicamente correto, eu vou me prestar a este triste, mas relevante papel, tal qual Norberto Elias, psicólogo - não de pessoas, mas de sociedades - falou mal e porcamente dos alemães, ele que nasceu em terras germânicas. Elias acabou por obrigar os seus conterrâneos a abandonar a idéia de que eram puros-sangues e superiores ao restante da humanidade, tida por eles como chinfrim e rastaqüera. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">É bem verdade que os brasileiros em geral evitam apontar objetivamente o dedo sobre o estranho jeito de ser dos mineiros. Mas, subjetivamente, deitam gozações, zoadas e escárnios sobre nós, sobretudo em forma de causos e piadas, que só mesmo nós mineiros achamos que são positivas ou edificantes. Em todas as piadas, paulistas, cariocas e gaúchos se dão mal, enquanto nós mineiros sempre nos saímos bem, seja indo para cama com as mulheres deles, seja provando, ao final, que somos ricos e eles pobres, e por aí afora.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Como, sacana e fingidamente, brasileiros em geral “acham bonito”, a maioria dos mineiros se apresenta para o restante do país falando errado, cochichando em ouvidos, estapeando costas alheias, comendo pão de queijo, dizendo uai – expressão que nem eles bem sabem o que significa-, palitando dentes, fumando fedorentos cigarros de palha, dizendo garrô e exalando o péssimo cheiro da cachaça, não raro metidos em botinas de couro cru, camisa xadrez, chapéu de palha e com vários penduricalhos no cinto da calça, como canivete, molho de chaves, cortador de unha, pochete e até telefone celular.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Alemães eram abominados por que insistiam em demonstrar superiores ao restante da humanidade. Mineiros são execrados por que gostam de demonstrar uma humildade que verdadeiramente não têm. Falsa, portanto!</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Quando me desarranchei de Minas e fui bater em outras plagas brasileiras, levei comigo quase todos os trens esquisitos que arrolei aqui. Se num restaurante, eu me punha a exaltar a culinária mineira, como ela fosse a melhor do mundo. Se o papo era literatura, Drummond, Rosa, Sabino, Otto, Nava eram postos por mim em uma plêiade que não comportava Dante, Rilke, Shakespeare, Pessoa, muito menos Machado de Assis, Lima Barreto, Graciliano ou Bandeira. Eu sequer me dava conta de que, embora nascidos em Minas, todos eles, de Drumond a Nava, escreveram as suas obras longe dos cocurutos e penhascos de Minas Gerais.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Eu simplesmente não seguia o provérbio “Em Roma, como os romanos” e aí acabava por não ser socialmente aceito. Pelo contrário, quando aceito, eu ficava numa espécie de papel de bobo da corte. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Por falar em Otto, ele foi injustamente homenageado pelo seu amigo Nelson Rodrigues, que deu a uma de suas peças o título de “Bonitinha, mas ordinária”, seguido do subtítulo “Otto Lara Resende” e cujo mote principal é “Mineiro só é solidário no câncer”. Digo “injustamente homenageado”, porque Otto, àquela altura radicado há anos no Rio, já perdera muito do jeito caipira de ser dos mineiros, tanto que nos criticou em muitos de seus textos, sobretudo em “O braço direito”, um tratado sobre o exacerbado apego à posições e cargos, à custa de nossa decantada mineirice, temperada à astúcia, fingimento e falsa modéstia.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Nava, por seu turno, pôs o dedo em nossas feridas em seu “Baú de Ossos”. Drumond escreveu “Triste Horizonte”, onde decretou que jamais retornaria a Minas, o que de fato cumpriu. O mesmo Drumond constatou que nas veias do mineiro, ao invés de sangue, corre ferro! Rosa, por seu turno, delimitou o universo de sua monumental obra no jeito sertanejo, não no mineiro jeito de ser. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Medo de levar uma vaia ou uma coça, por estar desancando os mineiros, tenho não? Primeiro porque estou longe, escondido nos cafundós da macega goiana. Segundo, porque ninguém entra em meu blogue, muito menos os mineiros que não ligam para quem nasce no Jequitinhonha. Terceiro, assumidamente doido que sou, não posso responder por minhas maluquices. E por fim, como falei mal dos mineiros, publicamente, em meu dicionário de fanadês lançado há cinco anos, prescrito se acha o direito de eles investirem contra mim.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Medo de uma reação dos meus conterrâneos do Jequitinhonha também não tenho, mesmo porque nem bem mineiros somos ou nos consideramos! Como fomos baianos por algum tempo e como os mineiros da gema até hoje não nos consideram como seus iguais, o Jequitinhonha é que é a nossa Pátria e Nação! Viva o Jequitinhonha!</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Diferentemente dos mineiros, os jequitinhonheiros são chiques e cosmopolitas, como o foi o nosso conterrâneo jequitinhonheiro JK. Fosse ele mineiro da gema, a história do Brasil seria diferente! Depois dele, nenhum outro mineiro verdadeiramente mineiro ocupou posições de relevo em nosso País. Itamar Franco, nascido na Bahia, Milton Nascimento, carioca da gema, mas para nós mineiros. Mas inversamente, Aécio, nascido em Minas, é carioca, assim como Pelé é paulista e Dilma gaúcha! Trem doido, sô!?</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Resumo da ópera: enquanto os mineiros insistirem no jeito caipira de ser, Minas continuará sendo o Estado Grande e Bobo que é, e nós do Jequitinhonha com vergonha de sermos considerados mineiros!</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div>Carlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-4180436781942165912012-08-07T11:16:00.001-07:002012-08-07T11:16:20.515-07:00Sapucaieira e Cagaiteira<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Sapucaieira e Cagaiteira: lugares em que o fanadeiro morre de medo de ir!<o:p></o:p></span></span></div><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><br />
</div><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Usei em meus versinhos de pé-quebrado, postados aqui, a expressão “penar na Sapucaieira”. Pra quem não é fanadeiro, explico: Sapucaieira é o apelido da Cadeia Pública de Minas Novas, em razão de uma frondosa árvore do mesmo nome plantada em seus fundos. Outra árvore, e pelo mesmo motivo, dá nome de “Cagaiteira” ao cemitério local. Ou seja, em Minas Novas, eventual campanha contra o álcool no volante seria assim: <o:p></o:p></span></span></div><br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">VOLANTE + BEBEDEIRA = CAGAITEIRA OU SAPUCAIEIRA!<o:p></o:p></span></span></b></div><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">E por falar em Sapucaieira, fui cobrado, assim que publiquei o meu “Dicionário de Fanadês, Jequitinhonhês e Mineirês, sobre a razão de eu não ter incluído nele o causo que conto a seguir, atribuído ao meu querido e quase amigo de infância, Ninin de Nazaré de Antônio Domingos. Herdeiro do cargo de carcereiro, por décadas ocupado pelo seu pai, Ninin recebeu uma severa ordem do Juiz de Direito da Comarca: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A partir de hoje você está obrigado a comparecer à cadeia às seis da manhã, abrir as celas para o banho de sol e liberar os presos do regime semi-aberto... Às seis da tarde, esteja à porta da cadeia para receber aqueles que trabalharam durante o dia...</i> E, cumpridor do dever que é, Ninin seguiu à risca a determinação do Juiz. Ocorre que os mal-acostumados presos, perambulando pelas ruas e tomando todas nos botecos, não voltavam na hora marcada, o que obrigava Ninin a esperá-los até tarde da noite. Ninin, então, chamou-os à regulagem, dizendo que o prazo máximo de suas chegadas era oito da noite. Mas eles continuaram quebrando o pau no ouvido e chegando a altas horas. Ninin, então, se emputeceu e colou na porta da Cadeia de Minas Novas um cartaz assim: <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">PRESO QUE CHEGAR DEPOIS DAS OITO VAI DORMIR NA RUA!<o:p></o:p></b></span></span></div>Carlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-91032462026470918032012-08-06T15:12:00.001-07:002012-08-06T15:12:16.579-07:00Pedras e eleiçõesAinda sobre pedras!<br />
<br />
Juro que é esta será a última vez que falarei de pedras. Doido que sou, sou louco por elas, tanto que tenho uma comigo, catada na beira do Fanado quando de lá saí em 1972, que embora um calhau sem valor comercial algum, não a troco por nada. Mas voltando à vaca fria da pedra chamada minas-novas, com hífen e tudo, caiu a minha ficha sobre outra particularidade do tema. Muitas cidades, sobretudo em nossa região, foram batizadas com nomes de pedras ou minerais, preciosos ou não: Diamantina, Carbonita, Itamarandiba, Turmalina, Berilo, Crisólita, Pedra Azul, Topázio, Rubelita e, em certa forma, Águas Formosas. Já em relação à nossa cidade, o seu nome “Minas Novas” é que denominou uma variedade de topázio chamada “minas-novas”, e não o contrário.<br />
<br />
Como estamos em época de eleição e os ânimos podem ser acirrados, não custa um lembrete: NÃO FAÇA DE SUAS PEDRAS (ou ovos) UMA ARMA; A VÍTIMA PODE SER VOCÊ!<br />
<br />
Mas só mais uma sobre pedras<br />
<br />
Padre Vili não era muito chegado a imagens de santo e, por esta razão, preferia encenar as passagens bíblicas com pessoas de carne e osso. Certa feita, o grande padre holando-jequitinhonheiro resolveu teatralizar o apedrejamento da pecadora, em que o Nosso Senhor Jesus Cristo quis mostrar ao povo que nenhum ser humano é perfeito e, portanto, não se deve ficar apontando os defeitos alheios. Vili, representando Cristo, e em sua volta vários figurantes fingindo atirar pedras na pecadora, foi quando um deles atirou um calhau de verdade no meio da testa da pobre coitada. Foi pá e ela tibumba no chão! E aí Padre Vili o admoestou: - Você nunca errou não, caríssimo? E o cabuquin: - Dessa distância nunca errei não, seu padre! E saiu contente com a sua certeira pontaria.Carlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-80279373439169049242012-08-06T12:17:00.001-07:002012-08-06T12:17:57.255-07:00Itamiju, o nome indígena de Minas Novas<div>Itamiju, o nome indígena de Minas Novas</div><div><br />
</div><div><br />
</div><div>1.727, ano do descobrimento (ou da fundação) de Minas Novas, pelo bandeirante paulista Sebastião Leme do Prado. Para o pouco afeito à história, parece que, antes de Tião, ser humano algum zanzou pela beira do Fanado, subiu pelo penal onde se assenta o nosso centro histórico ou tomou banho na finada Cachoeira do Moinho. Claro que sim! Sem contar os índios, dentre eles os Macunins, que viviam na região há mais de dez mil anos, os próprios Aranãs nas cabeceiras do Fanado, em Capelinha, europeus (sobretudo portugueses e espanhóis) entravam pela foz do Jequitinhonha, no litoral baiano, fuçavam seus afluentes como o rio Araçuaí e, no mínimo, passavam por perto do que é hoje Minas Novas. Historiadores dizem que antes da chegada da Bandeira de Tião, cristãos-novos (judeus fanados = circuncidados ou “castrados”) viviam na região, inclusive um chamado Faria, dono de uma estalagem (pouso ou Casa de Ana Baú), na beira do Fanado. </div><div>Índios não davam bola para coisas como ouro, diamante, topázio, turmalina, berilo, crisólita, no que estavam absolutamente corretos. Mas uma pedra miúda e meio amarelada com certeza chamava sua atenção em suas andanças entre os vales do Fanado e do Bonsucesso: ITAMIJU (em Tupi, ITA(Pedra)+MI(miúda)+JU(amarela). E itamiju era também o nome do rio.</div><div>A tal pedrinha amarelo-azulada (um topázio), achada somente em Minas Novas, ganhou o nome de minas-novas em Portugal. De tão rara, os portugueses costumam adjetivar de “minas-novas” aquilo que eles consideram raro, especial, espetacular ou fino, do mesmo modo em que, no Brasil, chamamos de “diamante fino” ou de “pedra rara” algo parecido!</div><div><br />
</div><div>Minas Novas é expressão que obviamente designa “Minas” surgidas depois das antigas. As antigas são as Gerais, descobertas mais ou menos trinta anos antes de 1727. Mas a expressão passou a designar os tais topázios. Daí, itamiju, do Tupi, é sinônimo de minas-novas, do português.</div><div><br />
</div>Carlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-71298381194465162362012-08-01T06:43:00.001-07:002012-08-01T06:43:18.046-07:00Mastondonte em Minas NovasSeria para desejar que algum geólogo visitasse como cuidado as grotas do deserto. Encontraria aí provavelmente ossos fósseis, pois que me deram em Vila do Fanado [Minas Nova MG], um dente de mastodonte, que está atualmente no Museu de Paris, e me disseram ter sido encontrado em um terreno salitrado do sertão. Não sei bem mesmo se não me falaram de ossadas gigantescas descobertas nessa região. (SAINT-HILAIRE, Auguste de. apud. CAMPOS, Leonardo. 1988. p. 39).Carlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-46209852452447009612012-08-01T06:41:00.001-07:002012-08-01T06:41:01.136-07:00Mastondonte em Minas NovasSeria para desejar que algum geólogo visitasse como cuidado as grotas do deserto. Encontraria aí provavelmente ossos fósseis, pois que me deram em Vila do Fanado [Minas Nova MG], um dente de mastodonte, que está atualmente no Museu de Paris, e me disseram ter sido encontrado em um terreno salitrado do sertão. Não sei bem mesmo se não me falaram de ossadas gigantescas descobertas nessa região. (SAINT-HILAIRE, Auguste de. apud. CAMPOS, Leonardo. 1988. p. 39).Carlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-26740642854396192772012-07-31T12:48:00.001-07:002012-07-31T12:48:42.155-07:00Aos analfabetos políticos<br />
<br />
<br />
Em meus exercícios mentais,<br />
Que não quero ver consumados,<br />
Sonho com ditadores boçais<br />
Fechando Câmara e Senado!<br />
<br />
<br />
E com o Congresso fechado,<br />
Suspensos os direitos civis,<br />
A empáfia dos fardados,<br />
Apontando-nos seus fuzis...<br />
<br />
<br />
Como vivi um tempo assim,<br />
Sei o valor da democracia,<br />
Considerada como chinfrim<br />
Pelos que o seu fim enuncia.<br />
<br />
<br />
Os que emitem nos blogues<br />
Opiniões tão absurdas,<br />
Agem, sim, feito buldogues,<br />
Surdos e de vistas turvas...<br />
<br />
<br />
Verdadeiras cavalgaduras,<br />
Não são capazes de entender<br />
Que em caso de ditadura,<br />
Serão os primeiros a perder:<br />
<br />
<br />
Perder o sagrado direito<br />
De falar qualquer besteira,<br />
Levar um tiro no peito<br />
Ou penar na Sapucaieira!<br />
<br />
<br />
É que a democracia<br />
Não é regime perfeito.<br />
Mas seria a tirania<br />
Regime mais escorreito?<br />
<br />
<br />
Entre todos, eu diria,<br />
De todos, a menos pior,<br />
Pilar da cidadania:<br />
Das piores, a melhor!<br />
<br />
<br />
Proibir, neste espaço,<br />
Discutir a política,<br />
Não passa de erro crasso,<br />
Cérebro cheio de titica.<br />
<br />
<br />
Até parece que aqui<br />
A cultura engrandece...<br />
Confesso poucas vezes li<br />
Alguma postagem que preste!<br />
<br />
<br />
Eis aí a oportunidade<br />
De melhorar este mundo,<br />
A começar pela Cidade<br />
E seus governantes imundos!<br />
<br />
Nada custa, em três meses,<br />
Trocar fotos e colagens,<br />
Inundando todas as redes<br />
Com proativas mensagens!<br />
<br />
<br />
O resto é pura bobagem<br />
Circulando na Internet,<br />
Não as políticas postagens<br />
Que você lê em seu tablet!Carlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-11935292573660793672012-07-28T09:19:00.001-07:002012-07-28T09:19:02.026-07:00<div>Minas Novas - 1918 - A foto deste blog</div><div>Esta foto foi tirada da torre, quiçá dos fundos do pedrado lateral da Igreja de Nossa Senhora do Amparo, por volta ou um pouquinho antes do meio-dia (observe que as pessoas estão quase que pisando em suas próprias sombras). As colchas nas janelas costumam, em nossa cidade, ser estendidas em procissões como Corpus Christi. Mas não se trata de procissão, dado ao fato de que as pessoas não estão em fila. Além do mais, as procissões costumam acontecer em fins de tarde, nunca ao meio-dia. Como as pessoas fotografadas sobem a antiga Rua do Rosário (ex-Marechal Deodoro, atual Av. Valdemar César Santos), é provável que se trate de um Reinado (Reisado), quando o rei ou a rainha do Rosário, ou ambos são levados à Igreja. O aglomerado no início do cortejo parece com o de um Reinado. Mas as “levadas” de reis à igreja ocorrem pela manhã. Percebe-se que as muitas mulheres estão com seus véus à cabeça, o que pode descartar a tese de tratar-se de um “reinado”, parte da Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Minas Novas sabidamente profana. Também milita contra a tese de um reinado, o fato de o comércio, no momento da foto, estar com as portas fechadas, sem animais amarrados em frente, como era comum! Festa Cívica também não é, em razão dos mesmos véus! Seria um enterro? Acho que não, pois, a confirmar a data 1918, ou anterior a ela, é de se considerar que o cemitério ainda não havia sido construído pelo Padre Ayala. Antes dele, as pessoas eram enterradas nas Igrejas. Lembro-me de túmulos no piso da Igreja do Rosário, o que poderia levar à convicção de que o séquito da foto conduzia alguém para ser enterrado ali. Mas o vestir das pessoas, sobretudo a profusão de trajes brancos, bem assim a quantidade de subintes, não se coadunam com um enterro de algum Irmão do Rosário, sobretudo à época em que a Irmandade certamente era integrada quase que exclusivamente por negros pobres (os brancos eram enterrados na Matriz de São Pedro, à época existente, ou na Igreja de São Francisco; os pardos, na Igreja do Amparo). Percebe-se que os homens se concentram em frente (pela quantidade de guarda-chuvas pretos). Como havia Banda de Música à época, é de se estranhar a sua ausência, se bem que em frente à casa de meus avós é possível divisar a silhueta de algo parecido com a campa de um baixo-tuba.</div><div>Seria a levada do cofre? Ela era feita em marcha muito ligeira (marche-marche). Note-se, bem perto da igreja, uma fila provavelmente só de homens. Talvez isso explica o fato de as mulheres terem ficado para trás!</div><div><br />
</div><div>Quando me dei por gente, isto por volta de 1959-60, a Rua do Rosário possuía fisionomia parecida com a estampada na foto. As árvores são as mesmas de minha infância. Apresentando poucas folhas, pode-se afirmar que a foto foi batida na estação seca, junho por exemplo). A terceira casa, à direita de quem sobe, era de meu bisavô Juvenato Coelho, que não conheci. Meu avô Durval, que morava ali, casou-se certamente em data próxima à foto, já que meu pai, José Geraldo Coelho, nasceu em 1922. Em minha infância, acima da casa de meus avós, morava Angelino (pai de Tião de Angelino), mais acima Zé Egídio e Loura, depois Wilson e Dóia, a Loja de Leopoldo, a casa de Dona Neide e Lau de Dodó, a casa de Sá Dona Ana, a de Tião de Angelino, a de Sá Maria Remunda, a de Olavo já na esquina; a nossa não aparece na foto, mas fazia divisa com a de Olavo. Ao lado esquerdo, o Comércio de Zé Camargos, a casa de Frade, a de Edgar Pereira, seguida de Jovina, Margarida Alacoque, Tia Maria Jesus, Luquinhas de Lucas, Zé Camargos, Mané Mocinha, Ioiô de Edgar, Ana Baú, Joãozinho de Adelaide, Tião Brandão, Mestre Roxo, Pedro Cirilo, Maria de Araújo...</div><div><br />
</div><div>Quem foi o fotógrafo? Se ele se deu ao trabalho de subir à torre da igreja para bater a foto, não seria razoável supor que ele bateu outras poses, principalmente quando o cortejo estava no Largo do Amparo ou espremido em frente ao Sobrado de nosso tio Cônego Barreiros? Tal foto, se de fato foi tirada, retrataria as pessoas de frente e não todas de costas, como sucede com esta... É bem verdade que as chapas fotográficas eram escassas e exigiam um tempo bem maior entre uma e outra, para que fossem trocadas... Desconfio de que o fotografo foi Capitão, pai de Luiz Leite, ou algum chegado dos Badarós em visita à cidade.</div><div><br />
</div><div>Observe-se que as casas já eram bem antigas, coincidindo com a tese de que a Minas Novas de então (1918), bem assim a que comecei a ver em 1960, foi totalmente construída num curto espaço de tempo (entre 1727 e talvez uns dez anos após). O esgotamento do ouro de aluvião foi rápido e quase todos os garimpeiros se mandaram de lá, rumo a outras minas, sobretudo as de Goiás e Mato Grosso. Em meu Dicionário de Fanadês, falo que por volta de 1960 ainda havia casas vazias e sem donos legais. Além do mais, o problema se agravou quando os Badarós expulsaram de Minas Novas, por volta do ano da foto, muitos adversários políticos, os quais também colaboraram para o aumento de residências vazias.</div><div>É de se espantar na foto com o elevado número de mulheres (roupas e sobrinhas brancas, saias pretas para as viúvas), em relação ao dos homens (guarda-chuvas pretos).</div><div>A rua fotografada era também conhecida como Rua de Cima, iniciada nos fundos a Igreja do Amparo e seguindo não mais do que cinquenta metros, nos fundos da Igreja do Rosário. A parte nobre da cidade ficava no “Miolo” ou Rua do Meio, onde se localizava a Matriz de São Pedro, o Sobradão, a Câmara, a Cadeia, repartições públicas, comércio. A Rua de Baixo, iniciada abaixo do Largo das Cavalhadas, em torno da Igreja de São Gonçalo, por ser residência dos desbravadores, certamente foi a que mais se despovoou, quando de sua debandada.</div><div>Meus ancestrais, exceto os Ferreira Coelho (residentes no Rosário ou na Fazenda da Bandeira Grande), moravam nas ruas do meio: Barreiros, Cunha, Mota, Oliveira, Costa, Miranda, Pinheiro, Sena e Chagas, bem assim parentes tortos como Camargos e Cristianismo. O pai da minha avó Maria Sena Mota era Elias Leon (ou Leão), um aventureiro espanhol. Já o pai de meu bisavô Domingos de Oliveira era o Cônego Napoleão Figueiró, de modo que eu poderia ser Carlos Domingos Mota Coelho Barreiros da Cunha Jobarcun Oliveira Costa de Miranda Pinheiro Sena Chagas Leon y Figueiró, sem contar apelidos de índios e negros também meus ancestrais.</div><div><br />
</div>Carlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-89993745163191017532012-07-27T09:07:00.001-07:002012-07-27T09:07:54.151-07:00Exame de Sangue<br />
<br />
Meire pegou meu exame<br />
E se meteu a o interpretar<br />
E disse: Carlos, que vexame!<br />
Sua cova pode cavar...<br />
<br />
A glicose tá nas nuvens<br />
Seus hormônios no Japão<br />
Seu trigliceres,cruzes,<br />
Quase chega a um milhão<br />
<br />
Fiado na conclusão<br />
De que eu iria morrer<br />
Mandei fazer um caixão<br />
Com as tábuas d´um Ipê<br />
<br />
Passei a noite a beber<br />
Todo o tipo de porcaria<br />
Certo que ao amanhecer<br />
Meu velório começaria<br />
<br />
Imaginei a gritaria,<br />
Ao lado do meu caixão<br />
Também a hipocrisia:<br />
Lá se foi um homem bão!<br />
<br />
Mas o dia amanheceu<br />
E eu acordei vivinho<br />
O sol brilhando no céu<br />
Nas árvores os passarinhos<br />
<br />
Mas eu continuei cabreiro<br />
Com aquelas loucas taxas<br />
E mal saí do travesseiro<br />
Meti o pé na cachaça<br />
<br />
Rápido fiz o testamento<br />
Redigido numa só linha:<br />
Uma sela, um jumento<br />
Era tudo o que eu tinha.<br />
<br />
Liguei pra dois amigos,<br />
Dos milhares que já tive<br />
Um se zangou comigo<br />
Me chamando de patife<br />
<br />
Mas Meire foi ao doutor<br />
Munida do papelório<br />
E de lá, alegre, ligou,<br />
Pode dispensar o velório!<br />
<br />
Com uma notícia tão boa<br />
Meti o pé na cachaça<br />
E assei uma leitoa<br />
Que só sobrou a fumaça!<br />
Me livrei da desgraça,<br />
Mas não do raio do banco<br />
Pois cheques dei na praça<br />
Até com valor em branco<br />
Certo de que a cachaça<br />
Me mataria num trancoCarlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-31312252601310394392012-07-24T17:57:00.001-07:002012-07-24T17:57:32.001-07:00SEXTA-FEIRA, 30 DE MARÇO DE 2012<br />
<br />
<br />
Minas-novas<br />
<br />
<br />
São jóias de alto preço os meus sonetos<br />
quer pela forma quer pelo sentido,<br />
bem trabalhados, musicais, correctos,<br />
muitíssimo agradáveis ao ouvido!<br />
<br />
<br />
Usando termos do falar comum,<br />
disponho-os de maneira harmoniosa,<br />
seleccionando-os todos, um por um,<br />
como se fossem pétalas de rosa.<br />
<br />
<br />
Por isso a minha Poesia cheira<br />
à flor do Lácio, afortunada e bela,<br />
como se canta em língua brasileira.<br />
<br />
<br />
Os versos com a minha assinatura,<br />
ou seja, a minha artística chancela,<br />
são minas-novas... da literatura!<br />
<br />
<br />
João de Castro Nunes<br />
Publicada por João de Castro Nunes em 13:18<br />
Enviar a mensagem por e-mail<br />
Dê a sua opinião!<br />
Partilhar no Twitter<br />
Partilhar no Facebook<br />
<br />
1 comentário:Carlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-75831315348973099802012-07-23T11:21:00.001-07:002012-07-23T11:21:09.208-07:00Lorotas&Marmotas: Empresa Brasileira de Locação de Tuiteiros e Adict...O escritor João Camilo e a burocracia<br />
<br />
Trabalhei no prédio do Inps da Avenida Amazonas, 266, o mesmo em que o professor e escritor João Camilo de Oliveira Torres trabalhou e faleceu em sua mesa de trabalho, em 1973, menos de três anos antes de meu ingresso ali. Convivi com várias pessoas que trabalharam com ele, inclusive com uma secretária que os gozadores diziam ter matado o escritor. João passava o dia lendo e escrevendo em sua mesa de superintendente, enquanto processos, portarias, ordens de serviço, memorandos e outros expedientes aguardavam a sua assinatura. Exceto a secretária, nenhum de seus quase dez mil subordinados podia entrar naquele espaçoso gabinete de trabalho. Ela e somente ela, uma vez pela manhã, outra à tarde! Assim que ela entrava, visível era o descontentamento do professor, mergulhado na leitura ou na elaboração de alguma peça literária. E mais puto ele ficava, quando ela perguntava: - professoooor, onde eu coloco esta bandeja de processos? Já tendo respondido aquela pergunta centenas de vezes, João com ela gritou: - Jogue-a pela janela! Pela Janela! E ela, servidora cumpridora de seus deveres, premida pelo tacão da ditadura então vigente, não se fez de rogada e, num átimo, despejou a papelada lá do alto do décimo segundo andar. Atônito, João, acompanhando de uma ruma de puxas sacos, passou o resto da tarde arrecadando documentos que se espalharam pela Avenida Amazonas, pela Praça Sete e até pela Raul Soares.<br />
<div><br />
</div><div><div>UM TEXTO DO PROFESSOR</div><div>Home - Ler e Pensar - Colunas </div><div>Nas invisíveis asas das histórias - Leitor errante</div><div><br />
</div><div>Um leitor ou espectador mais atento irá perceber que Shakespeare conta a história de Romeu e Julieta em duas peças diferentes. A primeira, e talvez mais antiga delas, se encontra na peça “Sonhos de uma Noite de Verão”. Nela uma trupe teatral ensaia uma antiga peça grega, baseada na tragédia de amor de Príamo e Tisbe, que narra a história de dois vizinhos apaixonadas que porém enfrentavam uma peculiar dificuldade: o ódio entre as duas famílias e que terminam por conta disto e do destino, por encontrar a morte, lado a lado. É a mesma história de Romeu e Julieta, que Shakespeare não inventou – ela era contada tradicionalmente na península italiana antes dele criar a peça e talvez tenha se originado da lenda de Príamo e Tisbe. </div><div><br />
</div><div>Mas Shakespeare era um só homem, por mais incrível que pareça, e uma história que viajou da Grécia para a península italiana não parece ser algo impressionante. Mas as histórias estão cruzando territórios bem mais longínquos e por período de tempo e culturas bem mais distantes do que o caminho percorrido por Príamo e Tisbe. </div><div><br />
</div><div>Certa feita, durante uma aula da professora Sônia Queiroz em um curso de pós-graduação, ouvi a história contada pelo contador tradicional, Joaquim Soares Ramos, de Minas Novas, recolhida por pesquisadores da UFMG. A história, a “Pedra de Ouro” nos conta a trágica história de três jovens irmãos que abandonam o velho pai e a lavoura em busca de riqueza. É curioso notar as semelhanças incríveis com o “Conto do Vendedor de Indulgências”, presente no “Contos da Cantuária” de Geoffrey Chaucer. Ainda que em Chaucer, os três personagens principais encontrem a Morte e não o Diabo, e que eles não fossem irmãos de sangue, a história é basicamente a mesma. Altera-se o tesouro, a arma usada, mas mantém-se o veneno e a resolução final. </div><div><br />
</div><div>“Os Contos da Cantuária”, em inglês “Canterbury Tales”, foi escrito por Chaucer no século XIV, na Inglaterra. Chaucer é considerado por muitos, um dos pais do idioma inglês moderno e da literatura inglesa que surgiria com o renascimento. Seus contos, escritos em versos, traziam marcas da moralidade religiosa daquele período e narravam a viagem de um grupo de peregrinos até a tumba de São Thomas Becket, e durante a viagem, este grupo diverso, reparte uma série de histórias, de maneira muito semelhante ao "Decameron" de Bocaccio. Chaucer, que conhecera a Itália, quando trabalhara como diplomata, alterou a literatura inglesa, até então muito germânica, abrindo-a para a influência latina, que foi de fundamental importância para uma nova métrica e linguagem que caracterizou Shakespeare e os poetas ingleses. </div><div><br />
</div><div>Como, teria a história saído de um clássico inglês, quase inacessível, chegando até um contador tradicional como Joaquim Soares Ramos de Minas Novas ? A história, que talvez tivesse sido conhecida por Chaucer de um conto árabe, não é a única a realizar essa transmigração. Você pode comparar ambas as histórias aqui no site da Aletria: A Pedra de Ouro e O Conto do Vendedor de Indulgências, e avaliar se realmente encontramos uma prova da agilidade das boas narrativas. De Chaucer até Joaquim, do século XIV até o XX e da Inglaterra até Minas Novas! </div><div><br />
</div><div> João Camilo de Oliveira Torres</div><div>.......................................................................................................................................</div></div><div>PREGANDO NO DESERTO. KKKKKK. Se algum dia algum filho de Deus e de Minas Novas entrar por aqui que me ajude descobrir quem é Joaquim Soares Ramos, citado no belo texto do Professor João Camilo.</div>Carlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8612297140035396941.post-672271034060106832012-07-12T07:42:00.001-07:002012-07-12T07:42:04.871-07:00Teoria dos blogs abandonados<a href="http://clubpenguinmrboris2.forumeiros.com/t360-teoria-dos-blogs-abandonados">T</a><span style="color: #0000ee;"><u>Sociedade Protetora dos Blogs Abandonados – SOPROBLOAS</u></span><br />
<span style="color: #0000ee;"><u><br />
</u></span><br />
<span style="color: #0000ee;"><u><br />
</u></span><br />
<span style="color: #0000ee;"><u>“Tudo que nasce tem o direito de viver” </u></span><br />
<span style="color: #0000ee;"><u>Tiago Primo de Oliveira, na Rio+20.</u></span><br />
<span style="color: #0000ee;"><u><br />
</u></span><br />
<span style="color: #0000ee;"><u>PREÂMBULO</u></span><br />
<span style="color: #0000ee;"><u><br />
</u></span><br />
<span style="color: #0000ee;"><u>Não bastasse em nosso mundo o grande número de crianças abandonadas, homens, mulheres, velhos, cachorros, gatos, jumentos, carros e artefatos espaciais abandonados, a Era Cibernética nos trouxe mais uma vítima: os blogues abandonados. Contados aos milhões, eles vagam a esmo por esse mundão virtual de meu deus, sem que ninguém, nem mesmo os seus criadores ou donos, os acessem ou neles deixem as suas postagens. </u></span><br />
<span style="color: #0000ee;"><u>Por outro lado, tal profusão de blogues impõe aos internautas a perda de parcelas consideráveis de seu precioso tempo, ao acessá-los, vasculhá-los para, ao final, perceberem que eles não informam nada! </u></span><br />
<span style="color: #0000ee;"><u>A Rio+20, na esteira da Revolução Francesa, da criação da ONU e sua Carta de Direitos e da Rio 92, sequer chegou a considerar proposta feita no sentido de se estabelecer marcos legais e regulatórios no que tange à concepção, gestação e nascimento dos blogues, bem assim tudo o que diz respeito à dignidade, não apenas humana, mas também de todos que vivem, dentre eles, obviamente os blogues. É bem verdade que se aventou ali uma experiência inovadora, surgida na Dinamarca, no sentido de controlar a natalidade dos blogues, sobretudo por via do uso de camisinhas virtuais, o que foi prontamente rechaçado pela Representação do Vaticano. Também se aventou, na chamada Cópula dos Povos, recolher tais blogues em creches, orfanatos e asilos virtuais, o que obteve a pronta repulsa dos que entendem que isso contraria o direito natural à vida em sociedade. Além do mais, prevaleceu a tese de que impor o controle de natalidade dos blogues implica a quebra do princípio constitucional da liberdade de expressão, ainda que tais blogues não expressem coisa alguma.</u></span><br />
<span style="color: #0000ee;"><u>Para não dizer que a Rio+20 foi de todo desatenta a um tema tão caro ao mundo civilizado, um de seus participantes – o médico-anarquista Alexandre Carvalho Atchun – apresentou aos participantes um artefato humano há muito extinto, capaz de aniquilar com todos os blogues: uma máquina de escrever! Mas sua proposta no sentido de que todos jogassem fora seus lapetopes, aipodes, aipedes e esmartefones não obteve eco algum naquele evento ecológico. </u></span><br />
<span style="color: #0000ee;"><u>Certo é que, não obstante a falta de vontade política global em enfrentar o problema, ele existe e carece de enfrentamentos e soluções. E o que é pior! Segundo especialistas em memética, risco há, num futuro não muito distante, de tais blogues se interagirem e replicarem infinitamente, provocando um desastre em toda vida cibernética, mergulhando o mundo no caos!</u></span><br />
<span style="color: #0000ee;"><u>E foi atenta a preocupações tão ingentes e sedentas de firmes ações, que surgiu a SOPROBLOAS, que se rege pelo seguinte Estatuto</u></span><br />
<span style="color: #0000ee;"><u><br />
</u></span><br />
<span style="color: #0000ee;"><u><br />
</u></span><br />
<span style="color: #0000ee;"><u> Nós, representantes do povo blogueiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade internáutica fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte REPÚBLICA VIRTUAL DO BRASIL.</u></span><br />
<span style="color: #0000ee;"><u>Art. 1º É a Sociedade Protetora dos Blogues Abandonados, doravante denominada pela sigla SOPROBLOAS, uma entidade civil sem fins lucrativos, com sede e foro em Sobradinho, no Distrito Federal, instituída com o fim específico de proteger blogues abandonados na Internet, seja por vontade deliberada ou não de seus criadores, mantenedores, hospedeiros e ou usuários, sem distinção de origem, raça, time de futebol, sexo, altura, cor, tamanho, peso, número de fios de cabelo na cabeça, idade e quaisquer outras formas de discriminação.</u></span><br />
<a href="http://clubpenguinmrboris2.forumeiros.com/t360-teoria-dos-blogs-abandonados">eoria dos blogs abandonados</a>Carlos Mota http://www.blogger.com/profile/18106485937911183049noreply@blogger.com0