sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Éramos assim!




Sinuca igual a da foto, não fizemos, quando meninos em Minas Novas! Mas tínhamos uma que era uma simples tábua com seis furos, as tabelas feitas de tiras de câmara de ar de pneu e um jogo de bolas de gude. Raríssimos os que possuíam bolas de futebol, por isso nos arranjávamos com bolas de meia, boleiras (fruto da lobeira) e até com uma que Bitenil fez de leite de mangaba. Todos os nossos brinquedos eram feitos por nós: carrinhos de direção e de cantadeira, feitos de madeira, aviões de papel e de piteira, petecas, espingardas de cano de bambu (estoque), cuja munição era jornal derretido a cuspe, aros de barril (chamados curiosamente de freio), estilingues, bodoques, flautas de bambu, canudo de mamoeiro ou de abóbora, coiós (papagaios ou pipas), manivelas de madeira ou de lata de sardinha para empiná-los, piões de madeira ou de cabeça (chamados de piorras ou zorras), papaventos (cataventos), avisos de coió, pernas de pau, aleluias (bolas de cera amarradas num barbante), jangadas de bambu ou piteira, zanguezalingues, zangaburrinha, lavanquinhas (finca), telefones de lata de massa de tomate, paraquedas de sacos plásticos e até uma caixa de enxadas em que Duí, a bordo dela, tentou levantar voo emperucado no muro do cemitério!
 As meninas faziam as suas próprias bonecas, de pano, cozinhavam em panelinhas de barro, bordavam e costuravam, brincavam de maré (amarelinha), pulavam corda, montavam presépios...
Muitas brincadeiras não dependiam de nada além que o próprio corpo, como as correrias de euú ou de esconder, folhinha verde, tapavão, cantigas de roda, trela de cachorro, corriãozinho queimado, garupa ou cavalinho e raríssimos eram os que tinham brinquedos de loja, feito velocípede ou bicicleta. Não tínhamos tevê e, além dos nossos brinquedos artesanais, líamos livros de papel, um objeto quase em extinção.
Vivíamos nas ruas, nos matos à cata de frutas, jogando bola nos largos e tomando banho, pescando ou bateando ouro em rio. Quando não estávamos na escola ou na igreja, a rua era o nosso local preferido, com muitos cavalos, burros, cachorros, mas raríssimos carros.
A chegada da tevê e o seu violento poder de modificar hábitos e costumes instaurou a chamada sociedade de consumo, onde somente as coisas pagas têm graça, e acabou por relegar ao mais completo esquecimento, em menos de três décadas, aquele jeito infantil de ser, fruto de milhares de anos, inclusive do tempo em que vivíamos nas cavernas.
A ruidosa Minas Novas de minha infância, com suas ruas, largos, matos e rios apinhados de crianças alegres, livres, leves e soltas, não existe mais. Elas, tal qual as das grandes cidades, se engaiolaram, olhos postos na tevê ou batucando seus dedinhos em teclas ou telas de tablets!
Tomara que isso dê certo! Será?

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